domingo, 24 de abril de 2011

Para professor, AI-5 deixou "herança maldita" na educação do país

12/12/2008 - 18h27

folha.uol.com.

THIAGO FARIA
colaboração para a Folha Online

Não foram as marcas e lembranças da perseguição e tortura sofridas durante a ditadura militar no Brasil que preocupam o professor Antonio Roberto Espinosa, preso de 1969 a 1973 sem nenhuma acusação formal. Ele admite não sentir mágoas de seus torturadores, a quem chama de "agentes de uma força maior", e diz que a "herança maldita" do Ato Institucional nº5 --que neste sábado (13) completa 40 anos e marcou o período-- ficou para a educação pública do país.

Estudante de filosofia da USP (Universidade de São Paulo) na época, Espinosa fez parte de movimentos que contestavam o comando dos militares no país, como o VAR (Vanguarda Armada Revolucionária) Palmares e o VPR (Vanguarda Popular Revolucionária).

Quarenta anos depois e doutor em Ciência Política pela mesma USP, afirma que o AI-5 iniciou o período mais triste da história brasileira. "O AI-5 abriu a história do Brasil para o período de maior violência, o período mais triste da história do nosso país, um momento que abriu a possibilidade da covardia dos Estado brasileiro contra os seus concidadãos", diz.

O controle das liberdades é apontado por Espinosa como responsável por, praticamente, acabar com o ensino público no país. "Até hoje repercute nos baixos níveis da educação e na educação pública como a educação de terceira categoria, o que aprofundou as diferenças sociais do nosso país."

Mesmo com a nova Constituição e todos os esforços feitos pelos sucessivos presidentes desde a redemocratização, em 1985, o professor afirma que o país ainda não conseguiu superar a herança deixada pelo ato.

"Não foi superado. Houve esforços dos sucessivos governos democráticos [...]. Foi uma deterioração tão profunda que não dá para enxergar em que momento o Brasil vai sair desse poço", afirma Espinosa, que defende a abertura dos arquivos secretos da ditadura para que o país possa colocar todos os "pontos nos is".
"Enquanto o Brasil não ajustar contas com a sua história ele não vai constituir uma democracia sustentável", afirma.

 

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