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28 de dezembro de 2010
Wadih Damous*
Completaram-se, este mês, 42 anos da edição do Ato Institucional nº 5, a permissão que o Estado brasileiro se autoconcedeu para perseguir, torturar e matar os opositores do regime ditatorial. Completaram-se também, este ano, 21 anos da primeira eleição direta para a Presidência da República, marco da retomada do caminho rumo ao Estado Democrático de Direito. Para os jovens, talvez uma eternidade de tempo que ficou para trás. De lá para cá, o país mudou, cresceu, redemocratizou-se, amadureceu. Assim como nossos vizinhos do continente.
A diferença é que eles conseguiram encarar a face medonha de sua história, venceram o receio de contá-la, de dar nome aos seus atores, de processar e condenar aqueles que praticaram crimes em nome do Estado. Enfim, lamberam suas feridas e seguiram em frente, cicatrizando-as.
Em nosso país, falta-nos ainda essa coragem. O muito realizado pelo ministro Paulo Vannuchi em prol dos direitos humanos e pela instalação da Comissão da Verdade não venceu as pressões contrárias dos que vão conseguindo ganhar mais tempo em sua aposta no desconhecimento, na desmemória.
Para nossa profunda decepção, até o Supremo Tribunal Federal curvou-se ao medo, ao decidir que a anistia valeu para torturadores. Medo do que, é difícil dizer. Por que nossas honradas Forças Armadas deveriam se melindrar com a verdade sobre quem as aviltou no passado? Por que seríamos incapazes de superar os fatos que mancharam páginas da nossa História? É preciso que não se repitam, e por isso a OAB continuará a reivindicar seu conhecimento.
Vêm-me à cabeça versos da Canção pela unidade latino-americana, na versão de Chico Buarque à música de Pablo Milanés: "A História é um carro alegre/ Cheio de um povo contente/ Que atropela indiferente/ Todo aquele que a negue".
*Wadih Damous é presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Rio de Janeiro
Artigo publicado no jornal O Dia, 28 de dezembro de 2010
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