terça-feira, 17 de maio de 2011

Presos pilotos que participaram dos ‘voos da morte’ durante a ditadura argentina

12/5/2011


unisinos

Os presos são o advogado Gonzalo Torres de Tolosa, o ex-suboficial naval Rubén Ormello e três pilotos que teriam participado do assassinato das freiras francesas e das fundadoras da organização Mães da Praça de Maio.

A reportagem é de Diego Martinez e está publicada no jornal Página/12, 11-05-2011. A tradução é do Cepat.

Dezessete anos após a confissão pública do ex-capitão Adolfo Scilingo, o juiz federal Sergio Torres ordenou a prisão e ouviu, nesta terça-feira, cinco supostos envolvidos nos voos da morte. O mais conhecido é o advogado Gonzalo Torres de Tolosa, defensor de seus companheiros da ESMA [Escola de Mecânica da Armada] durante anos, embora Scilingo o tivesse denunciado como aquele que pegava pessoas dormindo e as jogava no vazio.

Os ex-pilotos Enrique José de Saint George, Mario Daniel Arru e Alejandro Domingo D’Agostino, ao contrário, foram imputados a partir de uma investigação da Procuradoria Geral da República, que estudou planilhas da Prefeitura e identificou o voo do Skyvan em que teriam sido assassinados as freiras francesas Alice Domon e Léonie Duquet e os familiares de desaparecidos sequestrados na igreja de Santa Cruz, em dezembro de 1977.

O quinto preso é o ex-suboficial naval Rubén Ricardo Ormello, que confessou sua atuação nos voos nos anos 1980 para seus colegas de trabalho. Tanto De Saint George e Arru como o mecânico Ormello são funcionários da Aerolíneas Argentinas.

O único preso pelos voos no país era, até a segunda-feira passada, o capitão Emir Sisul Hess, que relatou que os sequestrados caíam “como formiguinhas”.

Seu caso já foi elevado ao Tribunal Oral Federal 5 e poderá ser julgado junto com a segunda turma de marinheiros da ESMA quando Acosta, Astiz & Cia. concluírem o processo.

O caso do tenente Julio Alberto Poch é diferente. Poch é piloto da Transavia extraditado da Espanha, goza de liberdade desde que a Câmara Federal ordenou o juiz Torres para reforçar os argumentos do processamento.

As novas prisões aconteceram na segunda-feira.
Quatro dos envolvidos prestaram declaração, na terça-feira, no juizado de Torres, que os encomendou ao Serviço Penitenciário Federal. Torres de Tolosa, com um tumor cerebral, foi ouvido pelo secretário Pablo Yadarola em sua residência, onde ficou preso com um policial à porta. O juiz tem agora 10 dias para resolver suas situações processuais.

Tenente Vaca
Gonzalo Torres de Tolosa, parente distante do capitão Jorge Acosta, integrava o setor Automotores da ESMA junto com Scilingo, que o conhecia como “Tenente Vaca”, pseudônimo que usava para ocultar sua identidade.

Juntos participaram do primeiro voo da morte confessado pelo marinheiro, ocorrido em meados de 1977 com um Skyvan da Prefeitura. O advogado esteve apenas um dia preso, em 1998, por ordem do juiz espanhol Baltasar Garzón, que pediu sem êxito sua captura e extradição.

Torres de Tolosa foi acusado na megacausa ESMA desde 2005, quando o fiscal federal Eduardo Taiano o incluiu em sua acusação. A sentença não o impediu de percorrer durante anos os corredores de Comodoro Py para defender os seus camaradas em desgraça.

O advogado é, além disso, um dos cinco civis condecorados no dia 12 de setembro de 1978 pelo ex-almirante Emilio Massera por seu “esforço e abnegação” como integrante do Grupo de Tarefas 3.3 “em operações reais de combate”.


O Colorado Ormello
Rubén Ormello era, em 1976, cabo segundo do Exército, tinha 21 anos e prestava serviços na área militar de Ezeiza. Sua confissão, que o Página/12 publicou há 20 meses, foi relatada ao juiz pelos seus ex-companheiros da Aerolíneas Argentinas, empresa em que entrou durante a ditadura e para a qual trabalhou até a segunda-feira no setor de manutenção do aeroporto de Mendoza.

“Ele contava que estacionavam um avião DC3 na plataforma e logo vinha um ônibus. Desciam-nos ‘meio rolando e como se estivessem bêbados’, com os olhos vendados. ‘Sentavam-nos na porta e o tordo lhes dava uma seringada de Pentonaval.

Os amontoávamos e quando estava tudo pronto saíamos.

Quando davam o sinal começávamos a arrastá-los até a porta
e os jogávamos para fora’, contava Ormello”, 
em relato feito por um operário. 

As fontes citaram um detalhe que deixou todo o mundo perplexo:

“Trouxeram uma mulher gorda que pesava cerca de 100 quilos 
e a droga não havia surtido efeito. 
Quando estava sendo arrastada se acordou e se agarrou a uma viga. 
A filha da puta não se soltava. 
Tivemos que chutá-la até que foi à merda”, recordava. 

No dia 13 de agosto de 2009 o Página/12 procurou Ormedo em seu trabalho e em sua casa em Godoy Cruz. Sua esposa informou que estava viajando. O cronista deixou seu telefone e seu endereço eletrônico, mas não teve nenhum retorno, nem antes nem depois da nota publicada no dia 6 de setembro de 2009.


Do Skyvan ao Boeing
As primeiras denúncias sobre o uso dos Skyvan em voos da morte remontam a 1983. Os registros da Prefeitura que derivaram nas prisões não foram solicitados pelo fiscal ou pelo juiz da causa ESMA, mas pelo fiscal Miguel Osorio, que decidiu investigar voos no marco da Operação Condor.

A Unidade Fiscal conduzida por Jorge Auat e Pablo Parenti processou 2758 planilhas de quatro Skyvan, identificou voos anômalos e assinalou em particular o do PA-51, de 14 de dezembro de 1977, que saiu do aeródromo Jorge Newbery às 21h30, voou três horas e dez minutos e, sem escalas nem passageiros segundo o registro, retornou ao ponto de partida.

Horas antes haviam sido fotografadas na ESMA as freiras Domon e Duquet, cujos cadáveres apareceram nas praias de San Bernardo seis dias mais tarde. De Saint George e Arru se afastaram da Prefeitura em 1978 para se incorporarem à Aerolíneas Argentinas.

Até o mês passado, quando o fiscal Taiano pediu suas prisões, voavam três vezes por mês para Madri como comandantes dos Boeing 747. D’Agostini, retirado em serviço, é chefe da divisão Veteranos de Guerra.

Dias depois do voo um superior elogiou o “domínio de suas reações emotivas” e assegurou que “mesmo em situações críticas se mantém sereno”.

Em Necochea, mora, ainda livre e impune, o chefe dos pilotos, o prefeito-geral Hilario Fariña, que o Conselho Deliberativo local poderia declarar nesta quinta-feira “persona no grata”.

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