quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Quando Dolares Falam Mais Alto

Publicado em 14/10/2013 O Instituto Presidente João Goulart, através de João Vicente Goulart, recebe a denúncia do então Major do Exército Erimá Pinheiro Moreira, esclarecendo em detalhes os motivos que levaram o general Kru a trair Jango e apoiar o golpe de 64, por um "punhado" de dólares enviados pelos EUA.

Guatemala: um campo de extermínio da Guerra Fria

cartamaior

24/09/2013

por Leonardo Severo 

 “Na Guatemala, o terror se transformou num espetáculo: soldados, comissionados e patrulheiros civis estupravam as mulheres diante dos maridos e dos filhos. O zelo anticomunista e o ódio racista se disseminaram no desempenho da contrainsurgência. As matanças eram inconcebivelmente brutais. Os soldados matavam crianças, lançando-as contra rochas na presença dos pais. Extraíam órgãos e fetos, amputavam a genitália e os membros perpetravam estupros múltiplos e em massa e queimavam vivas algumas vítimas”.

O relato extraído do livro "A revolução guatemalteca", (Greg Grandin, Editora UNESP, 2004), descreve os pormenores da política de terrorismo de Estado promovida pelos governos dos EUA – com apoio de Israel - contra os movimentos de resistência da nação maia nos anos 70 e 80.

Vale lembrar, destaca o autor, que “as práticas ensaiadas na Guatemala – como as desestabilizações e os esquadrões da morte dirigidos por agências de inteligência profissionalizadas – propagaram-se por toda a região nas décadas subsequentes”. E ganharam o mundo, afirmamos nós, como o comprovam as invasões do Iraque e da Líbia, onde o número de mercenários superou em muito o do exército regular. O fato destas “empresas” estarem entre as principais doadoras das bilionárias campanhas eleitorais estadunidenses não é um mero detalhe. Assim como o fato do secretário de Estado norte-americano Foster Dulles, advogado/acionista da United Fruit, ter comandado a campanha - ao lado de seu irmão Allen Dulles, chefe da CIA – pela derrubada do presidente guatemalteco Jacobo Árbenz, consumada em 28 de junho de 1954. O motor do golpe que levou ao poder o coronel Castillo Armas foi a nacionalização de terras da “Frutera” e sua distribuição a camponeses pobres e a indígenas.


Propaganda de guerra
No momento em que o Império retoma a propaganda de guerra contra o povo sírio e seu governo, a leitura contribui para refletirmos sobre os padrões de manipulação. Uma “amnésia oficial” patrocinada pelos grandes conglomerados privados de comunicação para dissipar a responsabilidade estadunidense na deposição de governos nacionalistas como o de Árbenz. Ali, lembra Grandin, “a CIA se serviu de práticas tomadas de empréstimo à psicologia social, a Hollywood e à indústria publicitária para erodir a lealdade” e gerar aversões, numa “campanha de desinformação concertada” em favor da United Fruit, grande latifundiária e também proprietária das rodovias, ferrovias e portos do país.

Com riqueza de dados e citações, a obra desnuda os meandros da participação de Israel como coringa ianque ao longo da agressão, desde o começo dos anos 70, até o período “mais cruel da repressão”, entre 1982 e 1983, com a chegada ao poder do general Efrain Ríos Montt. É neste momento, recorda o autor, “quando os massacres se tornaram simultaneamente mais precisos e mais horrendos”. Em recente visita à Guatemala, pudemos ouvir inúmeros relatos de sindicalistas sobre tais sevícias. Como não comparar com a prática nazi-israelense dos ventres abertos à ponta de baioneta, quando lembramos os 30 anos do massacre do campo de refugiados palestinos de Sabra e Chatila? Como esquecer dos soldados sionistas, em pleno século 21, praticando tiro ao alvo nos olhos das crianças palestinas, vazados pelas balas de aço revestidas com borracha?


O genocida Ríos Montt
Em maio de 2013, no julgamento em que Ríos Montt foi condenado por “genocídio” pelas atrocidades cometidas, a juíza Jazmín Barrios possibilitou que 149 mulheres da etnia ixil rememorassem o horror dos “estupros coletivos” praticados contra suas aldeias há três décadas. “O primeiro que perguntaram foi se dávamos comida aos guerrilheiros. Respondi que sequer os conhecia. Na casa estava minha filha, de uns 17 anos, e dois dos seus irmãos pequenos. Os soldados arrancaram sua roupa, separaram suas pernas com força e começaram a estuprá-la em frente às crianças, que choravam de medo”.

A contundência da narrativa de senhoras de 50 a 60 anos amplificou o circo de horrores que transborda dos informes da Recuperação da Memória Histórica (Remhi) da Conferência Episcopal Guatemalteca (CEG), e da Comissão de Esclarecimento Histórico, patrocinada pela ONU. “Os estupros foram utilizados como instrumento de tortura e escravidão sexual, com a violação reiterada da vítima”. “Se tens marido, então te estupram entre cinco e dez soldados. Se és solteira são 15 ou 20”. “Meu tio ia por um caminho com sua filha e uma neta, quando uma patrulha militar conseguiu agarrar as meninas. A criança de sete anos mataram, porque foram tantos os soldados que passaram sobre ela...”. “Alguns soldados estavam doentes de sífilis ou de gonorreia. A ordem foi que estes passassem por último, quando os sãos já tivessem estuprado”.

Soam ridículas as alegações de que tantos e tão flagrantes abusos tenham sido ações individuais e é risível o empenho das agências internacionais de notícia – as mesmas que blindaram os crimes perpetrados - para que seja esquecido o entranhado envolvimento dos EUA e do atual presidente guatemalteco, Otto Pérez Molina, no passado que não passou.

“Foi um serviço completo, com planejamento até o último detalhe”, relata Hector Gramajo, líder militar guatemalteco, lembrando que as zonas de resistência popular à entrega do país ao estrangeiro eram apontadas como “vermelhas”. Nelas, a luta deveria ser “sem quartel: todos deveriam ser executados e as aldeias arrasadas”. (Schirmer, J. The Guatemalan military Project: a violence called democracy. Philadelphia: University of Pensylvania, Press, 1998).


As mentiras de Reagan
Foi durante a administração do presidente estadunidense Ronald Reagan, lembra Greg Grandin, que “o governo da Guatemala cometeu suas piores atrocidades”. “Com a ascensão de Ríos Montt ao poder e o início da campanha de terra arrasada, o governo Reagan passou a fazer um vigoroso lobby pela retomada da ajuda militar”, destaca o autor, “conquanto um documento liberado da CIA deixe claro que, já em fevereiro de 1982, os analistas norte-americanos estivessem cientes das crescentes violações dos direitos humanos”. Em dezembro de 1982, no “auge da sanguinolência”, o presidente cowboy encontrou-se em Honduras com Ríos Montt, “o general do Exército que, na qualidade de chefe do Estado, presidia a pior fase do genocídio” e declarou que este era “injustiçado” pelos críticos e estava “totalmente comprometido com a democracia” (The New York Times, 5.12.1982).

Em janeiro de 1983, de olho na venda de armamentos ao país e no apoio da ditadura guatemalteca aos “contras” - mercenários que combatiam a revolução sandinista na Nicarágua -, o porta-voz do Departamento de Estado, John Hughes, comemora que Ríos Montt havia conseguido um “declínio extraordinário” nos abusos cometidos.

Apesar do forte bloqueio, as informações sobre os crimes começaram a fugir do controle. Mesmo dentro dos EUA, a opinião pública passou a pressionar contra o apoio ao regime fascista. Então, a participação israelense como “testa-de-ferro” na Guatemala caiu como uma luva para “contornar a proibição” votada pelo Congresso.

Obviamente, várias empresas estadunidenses também se utilizaram de artifícios para desrespeitar a decisão que defendia a vida, mas contrariava os seus negócios. “Leon Kopyt, o presidente da Mass Transit Systems Corporation da Filadélfia, contou a um jornalista que fazia anos que sua empresa fornecia ao governo guatemalteco miras laser de fuzil, embora a solicitação de venda desses produtos tivesse sido indeferida pelo Office of Munitions. A Mass Transit driblou a proibição do Congresso simplesmente comprando as miras laser de uma empresa estrangeira e revendendo-as ao exército guatemalteco. Por sua própria natureza, é difícil determinar a extensão dessas linhas de suprimento militar ilícito”, relata o autor.


Parceria sanguinária
De uma ou de outra forma, “a operação militar israelense-guatemalteca se iniciou plenamente em 1974, quando os dois países firmaram um acordo sobre armas”. (Rubenberg, C. A. Israel and Guatemala: arms, advice anda counterinsurgency, Middle East Report, May-June, 1986)

Assim, “em questão de meses”, chegaram ao país aviões, carros blindados, fuzis de artilharia, submetralhadoras Uzi e fuzis de assalto Galil, assim como técnicos e instrutores militares israelenses. Quando os EUA cortaram parte da ajuda em 1977, Israel passou a ser o principal fornecedor de armamento e tecnologia militar da Guatemala (Lusane, C. Israeli Arms in Central America, Covert Action, winter, 1984).

“A partir de 1977, Israel mandou para a Guatemala onze aviões de transporte Arava, dez tanques, 120 mil toneladas de munição, três barcos patrulheiros Tair, um novo sistema tático de rádio e um grande carregamento de morteiros de 81 milímetros, bazucas, granadas e submetralhadoras Uzi. E, em 1982, as tropas guatemaltecas receberam, em Puerto Barrios, dez tanques no valor de 34 milhões de dólares. A CIA e o Pentágono providenciaram para que a carga chegasse da Bélgica, passando pela República Dominicana” (Nairn, A, The Guatemala connection, The Progressive, maio 1986).

Também nessa década, aponta Greg Grandin, o governo israelense ajudou a instalar a Indústria Militar Guatemalteca, em Alta Verapaz, para fabricar munições para os fuzis Galil – que já monopolizavam o país - e as submetralhadoras Uzi. Em 1979, técnicos da Tadiran Israel Eletronics instalaram um centro de computação na capital do país, que se integrou ao Centro Regional de Telecomunicações e começou a funcionar em 1980. Em 1981, foi aberta a Escola de Transmissões e Eletrônica do Exército, “construída e financiada por Israel e dotada de pessoal israelense, para treinar militares em tecnologia de contrainsurgência”.

Nesta toada, em 1992, havia pelo menos trezentos peritos em inteligência israelense no país centro-americano, entre “especialistas em segurança e comunicações e pessoal de treinamento militar”. (The New York Times, 17.4.1982).

O resultado da parceria EUA-Israel na Guatemala não poderia ser outro que não o “terror em escala industrial”. “No curso de duas décadas, até o término da guerra em 1996, o Estado havia matado duzentas mil pessoas, feito desaparecer com 40 mil e torturado não se sabe quantos milhares mais”, aponta Greg Grandin.

Na prática, mais do que em laboratório, a Guatemala foi convertida – como enfatiza o autor - em “campo de extermínio da Guerra Fria”.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Reportagem Detalha Uso De Crianças Em Torturas Na Ditadura Militar

quarta-feira, 12 de junho de 2013





Enviado por Chico Villela da NovaE
Vídeo produzido pela TV Record, R7 



O repórter Luiz Carlos Azenha (R7 e titular do blog Viomundo) entrevistou vítimas do regime militar para contar uma história que ainda não foi totalmente revelada. Veja no especial As Crianças e A Tortura

As mulheres torturadas pela ditadura

quinta-feira, 21 de março de 2013

altamiroborges 

Por Tatiana Merlino, no sítio da Comissão da Verdade de São Paulo:

Quando os homens já estavam dentro de sua casa, Ieda pensou em resistir e pegar a metralhadora que estava em cima da mesa. Não houve tempo. Ela, sua irmã Iara e a mãe delas, Fanny, foram arrancadas de casa e levadas para a Oban (Operação Bandeirantes), em São Paulo.

Passava das 21 horas de 16 de abril de 1971 quando elas chegaram ao centro de tortura da Rua Tutóia, no bairro do Paraíso. Lá estavam presos e sendo torturados desde a manhã daquele dia, seu irmão, Ivan Akselrud Seixas, e seu pai Joaquim Alencar de Seixas, ambos militantes do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT).

Mãe e filhas foram separadas. Ieda foi levada para um banheiro, no segundo andar do prédio. Lá, havia uma cama e no lugar do colchão, uma tela e um cobertor.

O entra e sai de homens no cômodo era grande. As luzes apagaram-se, e Iara ouviu a ordem: “tragam o Ivan”. Na sequência, um som de rajada de metralhadora e um grito de Fanny. Era a primeira de várias simulações do fuzilamento de Ivan que a família viveria.

Ieda estava sentada na cama quando o movimento de homens no banheiro continuou. Um entrava depois do outro, uns dez no total. Um deles sentou-se ao seu lado, pressionando-lhe o corpo. Do outro lado, sentou outro, que usava um chapéu. “Era um homem asqueroso”, recorda-se Ieda.

Ele tirou os sapatos e enfiou a mão por entre as pernas de Ieda, alcançando sua vagina. “Me dê choque, me bata, mas não façam isso comigo”, suplicou a moça, desesperada, em vão. O homem era o delegado da polícia civil Davi dos Santos Araújo, conhecido no DOI-Codi como Capitão Lisboa.

Simulação

De madrugada, Ieda foi colocada numa viatura veraneio C-14, cheia de homens, e levada ao Parque do Estado. Ivan foi levado ao mesmo destino, porém em outro carro. Lá, houve novamente a simulação de fuzilamento do então adolescente de 16 anos. E, no carro, Capitão Lisboa, sentado ao lado de Ieda, novamente a violentou.

No caminho de volta ao DOI-Codi, os agentes desceram numa padaria para tomar café e de dentro do carro, Ivan e Ieda conseguiram ver a manchete do jornal Folha da Tarde numa banca de revista, que dizia que o pai deles, Joaquim Alencar de Seixas morrera. Porém, quando os irmãos chegaram ao DOI,Joaquim ainda estava vivo.

Mais tarde, Ieda foi obrigada a tomar um copo de leite, muito doce. “Só acordei no dia seguinte. Creio que fui dopada enquanto tiravam de lá o corpo do meu pai, que havia sido morto”.

Seixas fora assassinado por volta das 19 horas do dia 17. Sua esposa, Fanny, viu uma C14 ser estacionada no pátio e dentro colocarem o corpo do marido. Ouviu, também, um policial perguntar a outro: “De quem é esse presunto?”. Como resposta, ouviu: “Esse era o Roque” [codinome de Seixas].

O depoimento emocionado de Ieda Seixas foi dado na última quinta-feira, 14/03, em audiência pública da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”, que também contou com o relato da ex-presa política Elza Lobo.

Desaparecimento

Além do assassinato de seu pai, das torturas que ela e sua família foram submetidas, Ieda ainda denunciou o caso de um jovem que viu desaparecer no DOI-Codi. “Eu vi esse menino sentado no pátio. Era magro, loiro, aparentava ser muito novo. Ele foi levado para o andar de cima, onde foi torturado. Ouvimos seus gritos, e depois, ele silenciou, foi morto. Não sei quem é esse garoto. Certamente ele ainda está sendo procurado por alguma família”, relatou.

Ieda ficou um ano e meia presa: “Mas é como se tivesse ficado quase seis, porque foi o tempo que o Ivan ficou preso”. Passados 41 anos de sua prisão, a mulher de hoje 65 anos afirma que os gritos dos torturados da Oban nunca saíram da sua cabeça.

Durante a audiência, o presidente da Comissão da Verdade de SP, o deputado Adriano Diogo, comemorou a transformação do prédio onde funcionou, por 72 anos, o Tribunal da Justiça Militar, em Memorial dos Advogados de Presos Políticos. No imóvel também funcionará a sede de comissões da verdade.


Cadeira do dragão e choques

No dia 10 de novembro de 1969, voltando do trabalho, Elza Lobo chegou em casa e encontrou a porta de entrada encostada. Sentado na escada, estava o capitão Maurício [Lopes Lima]. Levada à Oban, a então militante da Ação Popular Marxista Leninista foi submetida a inúmeras torturas.

Puseram-lhe um capuz, e depois de atravessar uma área externa, foi levada para um corredor, com paredes molhadas, de onde escorria água. Depois, foi transferida para uma sala de tortura, onde foi colocada na cadeira do dragão, [cadeira revestida de zinco ligada a terminais elétricos, onde presos sentavam nus]e submetida a choques elétricos nas mãos, orelhas, seios, vagina.“As torturas foram intermináveis”, recorda-se Elza, que à época era funcionária da Secretaria da Fazenda de São Paulo.

“A gente ficava jogado no chão, com a porta trancada. Se queria ir ao banheiro, tinha que pedir. E eles decidiam se abriam ou não”, explicou, durante a audiência da Comissão da Verdade. Elza lembrou de outra situação “muito violenta”, quando entre os interrogadores havia “pseudo religiosos, fingindo-se de bonzinhos para nos tentar convencer a falar. Até livros religiosos eles traziam para completar a farsa”, explicou. Depois de 15 dias na Oban, Elza foi levada para o Dops, e no total, ficou 2 anos presa. A audiência de sobreviventes foi a primeira de uma série, que irá ouvir ex-presos vítimas de tortura.

* Tatiana Merlino é jornalista da assessoria da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”- presidente Adriano Diogo.

Comissão da Verdade quer acabar com a família, a Igreja e as Forças Armadas - dizem os militares

Militares colocam em dúvida metodologia do órgão e levantam teoria conspiratória para acabar com a Lei da Anistia

Wilson Lima e Luciana Lima - iG Brasília | - Atualizada às


Após um ano de investigação, são cada vez maiores as queixas dos militares contra os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade. Se antes a dúvida estava relacionada apenas ao foco das investigações, hoje os militares alegam que todo o trabalho tem o objetivo de derrubar a Lei da Anistia (Lei 6.683/1979).

Os militares acreditam que a Comissão é um órgão “para acabar com pilares sagrados da extrema direita: a Igreja, a família cristã e as Forças Armadas”
 como define o assessor especial da presidência do Clube Militar do Exército, general Clóvis Purper Bandeira. “Eles (integrantes da Comissão da Verdade), filhos da burguesia, querem acabar com as instituições como a família, a Igreja e as Forças Armada”, comentou.


Wilson Dias/ABr
Ustra, que comandou o DOI-COdi, depõe na Comissão Nacional da Verdade
Mesmo com a definição expressa nos objetivos do órgão, de trazer a verdade sobre os crimes cometidos pelo Estado em nome da ditadura militar, as altas patentes das Forças Armadas ainda insistem na ideia de que se deve buscar uma paridade na composição da comissão e nas investigações. O general de brigada do Exército Luiz Eduardo da Rocha Paiva afirma que os casos de militares que morreram em conflito com os movimentos armados também precisam ser investigados.

“Já que ela (a Comissão) está aí, que funcione, mas que cumpra o que está na lei. A lei é bem clara, não é para investigar apenas os crimes cometidos por agente públicos. A lei diz que deve ser feita a reconstrução dos casos de graves violações dos direitos humanos para que seja prestada assistência às vítimas. E aquelas 120 vítimas do outro lado? Essas são, por acaso, cidadãos de segunda categoria?”, questionou o general que acusou a Comissão de se “autolimitar”.
Em março, o Clube Naval do Rio de Janeiro, o Clube Militar do Exército e o Clube da Aeronáutica divulgaram uma nota oficial denominada “Mensagem à nação brasileira”. O documento criticava os trabalhos da Comissão da Verdade. As entidades afirmaram que havia no Brasil um Estado de exceção e que, por esse motivo, era necessário o sufocamento de uma ameaça comunista.

“O povo brasileiro, no início da década de 1960, em movimento crescente, apelou e levou as Forças Armadas Brasileiras à intervenção, em março de 1964, num governo que, minado por teorias marxistas-leninistas, instalava e incentivava a desordem administrativa, a quebra da hierarquia e disciplina no meio militar e a cizânia entre os Poderes da República.”

Entre os representantes das Forças Armadas há um pensamento de que a CNV, instituída durante o governo do PT, foi criada como instrumento de vingança contra os militares. O ápice desse plano seria a mudança na interpretação da Lei da Anistia .

“Eu acho que, de posse do resultado dos trabalhos da Comissão da Verdade, parlamentares, principalmente do PT, tentarão modificar os efeitos da Lei da Anistia. Logo ela que foi a pedra angular da reconciliação nacional”, afirma o presidente do Clube Naval do Rio de Janeiro, o vice-almirante Ricardo Antônio da Veiga Cabral.


Agência Brasil
O ex-sargento Marival Chaves, que trabalhou no DOI-Codi/SP, presta depoimento na Comissão
A primeira confirmação da “atitude parcial” da Comissão da Verdade teria sido a expedição de uma resolução, em agosto do ano passado, delimitando o foco de atuação do órgão. De acordo com esse documento, a Comissão da Verdade passou a investigar apenas os crimes cometidos por agentes do Estado. “Essa é uma meia verdade”, disse. “A Comissão da Verdade quer causar um maior prejuízo à Forças Armadas enquanto eles pousam como defensores da democracia”, critica Bandeira.
 Após o lançamento da Comissão, o Clube Naval chegou a instituir, por meio de portaria interna, uma comissão especial para acompanhar os trabalhos do órgão. Eles temiam que membros da Marinha fossem convocados e disponibilizaram assessores jurídicos para evitar a condução coercitiva. Até agora, nenhum membro da marinha foi convocado pelo colegiado. Ao todo, 17 militares já prestaram depoimentos à Comissão da Verdade.

Ministros e Parlamentares são cassados pelo AI-5 - 16 de janeiro de 1969

A lista de cassações aumentou no mês de janeiro em consequência da edição do Ato Institucional número 5 (AI-5), em dezembro de 1968.

A punição atingiu parlamentares e até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Entre os que perderam o mandato estavam:

2 senadores - Aarão Steinbruck e João Abraão -,
35 deputados federais,
3 ministros do STF - Hermes Lima, Vítor Nunes Leal e Evandro Lins e Silva,
além de aposentar compulsoriamente os ministros Antônio Gonçalves de Oliveira e Carlos Lafaiete de Andrade.

O AI-5 não poupou nem o ministro do Superior Tribunal Militar (STM) Peri Constant Bevilacqua, que, segundo o porta-voz do Presidente Costa e Silva, Carlos Chagas, era acusado de "dar habeas-corpus demais".

O Congresso foi fechado, e só foi reaberto em outubro, para eleger o general Emílio Garastazu Médici à Presidência da República.

O AI-5 foi o instrumento criado para dar amparo legal aos atos arbitrários cometidos pela ditadura militar. O decreto autorizou o presidente da República a fechar o Congresso, intervir nos Estados e municípios, cassar mandatos parlamentares, suspender por 10 anos os direitos políticos de qualquer cidadão, confiscar bens considerados ilícitos, além de suspender a concessão de habeas-corpus.

Os encarregados de inquéritos políticos estavam autorizados a prender qualquer pessoa por 60 dias, 10 dos quais estas deveriam permanecer incomunicáveis. Emissoras de televisão e de rádio, e redações de jornais seriam ocupadas por censores. O AI-5 foi seguido por mais 12 atos institucionais, 59 atos complementares e oito emendas constitucionais, e foi revogado em 17 de outubro de 1978.


fonte - jblog

O assassinato de Manuel Fiel Filho - 17 de janeiro de 1976


Eram 9 horas da manhã de uma sexta-feira, quando dois indivíduos, numa caminhonete bege, pararam em frente à Metal Arte Industrial Reunidas, na zona leste da capital paulista e, identificando-se como agentes do DEOPS dirigiram-se ao encarregado do Departamento de Pessoal da empresa, em busca de Manuel Fiel Filho, empregado há 19 anos - encarregado do setor de prensas hidráulicas, informando urgência em contactá-lo. Cinco minutos depois, de uniforme em brim azul, estava diante deles o funcionário, que havia chegado às 7h ao trabalho.
Os agentes pediram que Manuel os acompanhasse para prestar um esclarecimento. Segundo o chefe do Departamento de Pessoal, Manuel estava tranquilo e antes de acompanhar os agentes fez uma única pergunta: "Será preciso eu trocar de roupa ou posso ir assim mesmo"? E ouviu a seguinte resposta de um deles: "Pode ir assim mesmo, que logo você estará de volta".

De lá, os três seguiram para a casa de Manuel, também na zona norte de São Paulo, onde estavam sua esposa e filhas. Sem nada explicá-las, apenas recomedaram: "Ninguém deve falar nada com ele". E começaram a revistar o domicílio. Ao final das buscas, permitiram que Manuel ficasse a sós com a família por alguns instantes, mas ao ser questionado pela esposa, apenas a abraçou e disse: "Não se preocupe, nega, que eu não vou demorar". Em seguida, Manuel e os policiais entraram no carro e deixaram o local.

Manuel Fiel Filho não foi mais visto.


Apesar da preocupação, todos resolveram aguardar por notícias. Até que, as 22h de sábado, 17 de janeiro de 1976, um táxi apareceu à porta da casa de Manuel, e sem descer, o passageiro informou à sua esposa secamente: "Seu marido se suicidou". E estendendo os braços para fora do carro, entregou-lhe um saco com os pertences que Manuel usava no dia anterior: Blusão, calça, sapatos, cinto e uma nota de Cr$ 10. Também havia um envelope timbrado do II Exército, com os documentos do operário.

A família seguiu para o IML, à procura do corpo de Manuel, mas os funcionários negaram que ele tivesse dado entrada ali. Contudo, diante da insitência de seus parentes, os funcionários acabaram por admitir que o corpo do operário havia chegado poucos minutos antes, vindo do Hospital das Clínicas, onde havia dado entrada após passar mal no trabalho e acabara de morrer. Porém, havia ordens no IML para que ninguém visse o corpo de Manuel e que a família não fosse comunicada do enterro.

Por fim, diante da pressão dos irmãos de Manuel, o corpo de Manuel acabou sendo velado, sob escolta policial, na capela da Igreja Nossa Senhora de Lourdes, no bairro Belém, com a condição de que a cerimônia fosse rápida e discreta. Alguns conhecidos puderam ver um corte profundo, longitudinal da altura do queixo ao pescoço, para o qual receberam a explicação de tratar-se de uma autopsia.

Em poucos minutos, encerrou-se o sepultamento. E para todos que se retiravam, um policial à paisana recomendava que evitassem comentar o acontecimento, que não deveria ultrapassar o âmbito familiar. A viúva e as duas filhas de Manuel não voltaram para casa e deixaram São Paulo no mesmo dia.


A vida e morte de Manuel é a base do documentário Perdão Mister Fiel - O Operario que Derrubou a Ditadura no Brasil que mostra a atuação dos Estados Unidos na caça aos comunistas e nas ditaduras militares na América do Sul.

fonte jblog

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Última carta da lutadora Olga Benário

 
Abril de 1942
Última carta da lutadora Olga Benário, antes de ser assassinada pelos Nazistas no campo de concentração de Ravensbruck na câmara de gás:

Queridos:
Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade. Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim imaginar, filha querida, que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças – ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado. Antes de tudo, vou fazer-te forte. 

Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Sua avó, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos muito bem. Deves respeitá-la e querê-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Todas as manhãs faremos ginástica... Vês? Já volto a sonhar, como tantas noites, e esqueço que esta é a minha despedida. E agora, quando penso nisto de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar teu corpinho cálido é para mim como a morte.
 

Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre a tudo de bom que me destes? Corformar-me-ia, mesmo que não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me olhassem. E queria ver teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto. E estou tão agradecida à vida, por ela haver-me dado a ambos. Mas o que eu gostaria era de poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será possível que nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha?
 

Querida Anita, meu querido marido, meu Garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça, pois parece que hoje as forças não conseguem alcançar-me para suportar algo tão terrível. É precisamente por isso que esforço-me para despedir-me de vocês agora, para não ter que fazê-lo nos últimas e difíceis horas. Depois desta noite, quero viver para este futuro tão breve que me resta. De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. Beijo-os pela última vez.
 

Olga

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vou colocar aqui o vídeo do filme
no final  essa carta é recitada


segunda-feira, 6 de maio de 2013

Militar da reserva detalha 'plano para matar Jango'



 unisinos

Em depoimento neste sábado, 5, à Comissão Nacional da Verdade (CNV), no Rio de Janeiro, o coronel-aviador da reserva Roberto Baere, 80 anos, revelou detalhes da chamada Operação Mosquito, conspiração montada em 1961 por oficiais da Aeronáutica para matar o então vice-presidente, João Goulart, que estava prestes a assumir a Presidência no lugar de Jânio Quadros, que havia renunciado. Segundo seu depoimento, ele recusou participar da ação e ela foi abandonada.

A reportagem é de Fábio Grellet e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 05-05-2013.

A denúncia de Baere ocorre três dias depois de a própria comissão ter decidido pela exumação do corpo de Goulart - que está sepultado em São Borja (RS) e sobre cuja morte, em 1976, pairam até hoje suspeitas de envenenamento.

Apoiado em 1961 pela esquerda e pelos sindicatos, Goulart era visto por setores da direita militar como herdeiro político de outro velho inimigo dela, o presidente Getúlio Vargas, que havia se suicidado em 1954. Passados dez anos, esses grupos eram radicalmente contra sua posse no lugar de Jânio.

Quando este renunciou, a 21 de agosto de 1961, Goulart estava na China. Ciente da oposição da direita, ele demorou para voltar e foi desembarcar dia 31 de agosto em Porto Alegre, onde as tropas eram leais ao governador Leonel Brizola (PTB), seu cunhado. Ele só chegou a Brasília em 5 de setembro, já com o parlamentarismo imposto pelos militares. O plano dos golpistas era abater o avião em que Goulart faria essa viagem.

Baere, então tenente do 1.º Grupamento de Aviação de Caça da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio, contou neste sábado ter recebido ordens do comandante da base, o tenente-coronel Paulo Costa (que já morreu), para preparar os caças que seriam usados no ataque. Segundo Baere, ele e três colegas se recusaram a cumprir a missão.

"Pedimos que ele não nos escalasse porque entramos nas Forças Armadas para defender a Constituição e não agredi-la", afirmou ele ontem diante da comissão.
O plano acabou sendo abandonado, mas Baere foi punido três anos depois, já no governo militar de 1964. "Fui sumariamente expulso, após 50 dias incomunicável na prisão, policiado na porta por um oficial de metralhadora, como um marginal de alta periculosidade".

A CNV ouviu também, neste sábado, outros militares punidos por se oporem ao golpe. Um deles, o fuzileiro naval Paulo Novais Coutinho, tinha sido mandado em 25 de março de 1964, sete dias antes do golpe, ao Sindicato dos Metalúrgicos do Rio para dispersar uma reunião. A frente de 39 homens, recusou-se reprimi-la. Ficou preso nove meses e foi expulso por indisciplina. Só conseguiu voltar à Marinha em 1989.

domingo, 5 de maio de 2013

MPF denuncia coronel Ustra por ocultação de cadáver na ditadura militar

blog limpinho e cheiroso

Ustra05
Coronel Carlos Alberto Ustra: torturador e assassino do DOI-Codi, durante a ditadura militar.

Bruno Bocchini, via Agência Brasil

O Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo denunciou, pelo crime de ocultação de cadáver, o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna de São Paulo (DOI-Codi) no período de 1970 a 1974. Também foi denunciado pelo mesmo crime o delegado aposentado Alcides Singillo, que atuou no Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops/SP) na ditadura militar.

Na ação, ajuizada na sexta-feira, dia 26/4, Ustra e Singillo são acusados de ocultar o cadáver do estudante de medicina Hirohaki Torigoe, então com 27 anos, morto no dia 5 de janeiro de 1972. Torigoe foi membro da Ação Libertadora Nacional (ALN) e do Movimento de Libertação Popular, organizações de resistência à ditadura.

De acordo com o MPF, a versão oficial do crime – divulgada à imprensa duas semanas após o desaparecimento do estudante – sustenta que Torigoe foi morto na Rua Albuquerque Lins, no bairro de Higienópolis, na zona oeste de São Paulo, em um tiroteio com a polícia. Segundo as fontes oficiais da época, a demora na divulgação da morte ocorreu porque a vítima usava documentos falsos, com o nome de Massahiro Nakamura.

No entanto, o MPF contesta a versão oficial com base no depoimento de duas testemunhas: André Tsutomu Ota e Francisco Carlos de Andrade, presos na mesma data. De acordo com os depoimentos, Torigoe foi ferido e levado ainda com vida ao DOI-Codi do 2º Exército, no bairro do Ibirapuera, onde foi interrogado e submetido à tortura.

As testemunhas afirmaram que os agentes responsáveis pela prisão de Torigoe tinham pleno conhecimento da verdadeira identidade do detido. Apesar disso, de acordo com o MPF, todos os documentos a respeito da morte da vítima, inclusive o laudo de necropsia, a certidão de óbito e o registro no cemitério, foram elaborados em nome de Massahiro Nakamura.

Para o MPF, além de utilizarem o nome falso nos documentos de óbito e de sepultarem clandestinamente o estudante no Cemitério de Perus, em São Paulo, os subordinados de Ustra negaram aos pais de Torigoe informações a respeito do filho desaparecido.

Na ação, o órgão acusa Ustra de enterrar clandestinamente Hirohaki Torigoe, falsificar os documentos sobre a morte com o intuito de dificultar a localização do corpo, ordenar a seus subordinados que deixassem de prestar informações aos pais da vítima e de retardar a divulgação da morte em duas semanas, com a intenção de ocultar o cadáver e garantir a impunidade pelo homicídio.

“A conduta dolosa de ocultação do cadáver resta totalmente caracterizada pelo fato de que os pais da vítima estiveram nas dependências do DOI-Codi antes da divulgação da notícia do óbito, em busca do paradeiro do filho. Lá, porém, funcionários do destacamento sonegaram-lhes a informação de que Hirohaki Torigoe fora morto naquele mesmo local e que seu corpo fora clandestinamente sepultado com um nome falso”, ressalta o texto da ação.

Desde 2006, um inquérito civil público busca localizar os restos mortais de Hirohaki Torigoe. “Até hoje permanecem os restos mortais de Hirohaki Torigoe ocultos para todos os fins, inclusive os penais”, afirma o MPF.
O delegado de Polícia aposentado Alcides Singillo é acusado de deixar de comunicar a correta identificação e localização do corpo à família da vítima, o cemitério onde ele supostamente foi enterrado e o cartório de registro civil onde a morte foi registrada. De acordo com o MPF, Singillo era, na época, delegado do Deops de São Paulo e tinha ciência da identidade do estudante, pois colheu o depoimento do verdadeiro Massahiro Nakamura, que foi a delegacia após a notícia de que Torigoe usava seu nome.
Segundo o advogado de Ustra, Paulo Esteves, o ex-coronel nunca participou de nenhum tipo de violação de direitos. “A violência não foi apanágio da vida dele”, disse. A reportagem não conseguiu localizar o advogado do ex-delegado Singillo.

Revisão da Anistia volta à discussão

Extraído de: Associação do Ministério Público de Minas Gerais  - 30 de Abril de 201

O coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Paulo Sérgio Pinheiro, afirmou ontem que o trabalho do colegiado deve servir para futura investigação judicial e responsabilização criminal de agentes de Estado que operaram na estrutura repressiva da ditadura militar. Ele frisou que no relatório final da comissão deverá haver recomendações para que o Brasil respeite uma decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos que questiona a validade da Lei de Anistia. "Existe uma sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos que diz que as autoanistias não são aceitáveis", ele destacou ontem, em encontro em São Paulo com membros das comissões estaduais de Memória Verdade e Justiça. O que aconteceu no Brasil foi uma autoanistia, afirmou. Na ocasião da sentença proferida pela corte, o então ministro da Defesa, Nelson Jobim declarou que a decisão não teria efeitos práticos, se baseando em posição do Supremo Tribunal Federal (STF), que rejeitou ação pedindo a revisão da Lei da Anistia. Rosa Cardoso, também integrante da CNV, disse que espera uma revisão da decisão do Supremo.

Pressionada pelos membros de comitês estaduais por mais agilidade e transparência, a CNV anunciou também que deve divulgar um relatório parcial de seus trabalhos e partes dos depoimentos colhidos por ela. A comissão está sinalizando uma mudança de rumo. Está reorientando o trabalho porque começa a perceber que é preciso que suas investigações repercutam agora na sociedade. O trabalho dela é também pedagógico, não é simplesmente fazer um relatório e dar a coisa por encerrada, avaliou o vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo, Marcelo Zelic, presente ao evento.

A coordenadora do núcleo de lutas pela terra da CNV, a psicanalista Maria Rita Kehl disse anteriormente ao Estado de Minas que há casos em que é importante manter o sigilo das investigações para que elas não sejam prejudicadas.

Demissão No encontro, foi anunciada a saída do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Gilson Dipp, da CNV, por motivo de saúde. Afastado do STJ já há sete meses, ele havia informado a comissão há onze dias, mas a decisão só foi confirmada publicamente ontem.

Um grupo de trabalho do Ministério Público Federal chamado Justiça de Transição já trabalha de acordo com a linha defendida pelo presidente da CNV e instaurou 170 investigações criminais, sustentando que os crimes de sequestro, homicídio, tortura e ocultação de cadáver não prescrevem. Pelo menos quatro delas deram origem a ações penais. (Com agências)


Ustra é denunciado
O Ministério Público Federal apresentou ontem denúncia contra o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra e o delegado aposentado Alcides Singillo por ocultação do cadáver do estudante de medicina Hirohaki Torigoe, de 27 anos, morto em janeiro de 1972, em São Paulo. Tarigoe era militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN) e do Movimento de Libertação Popular (Molipo) e teria morrido em confronto com policiais, segundo consta a versão oficial. No entanto, dois depoimentos, de André Tsutomu Ota e Francisco Carlos de Andrade, contestam a informação. Ambos estavam presos no DOI-Codi quando o estudante foi morto. (Estado de Minas)

sábado, 20 de abril de 2013

Documento que mostra extermínio de índios é achado após 45 anos





Desaparecido há 45 anos, o Relatório Figueiredo - um dos documentos mais importantes produzidos pelo Estado brasileiro no último século - foi encontrado recentemente no Museu do Índio, no Rio de Janeiro, com mais de 7 mil páginas preservadas e contendo 29 dos 30 tomos originais. O texto redigido pelo então procurador Jader de Figueiredo Correia traz denúncias de caçadas humanas promovidas com metralhadoras e dinamites atiradas de aviões, inoculações propositais de varíola em povoados isolados e doações de açúcar misturado a esctricnina. Agora, o relatório pode se tornar um trunfo para a Comissão da Verdade, que apura violações de direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988. As informações foram publicadas no jornal Estado de Minas



A investigação, feita em 1967, em plena ditadura, a pedido do então ministro do Interior, Albuquerque Lima, tendo como base comissões parlamentares de inquérito de 1962 e 1963 e denúncias posteriores de deputados, foi o resultado de uma expedição que percorreu mais de 16 mil quilômetros, entrevistou dezenas de agentes do SPI e visitou mais de 130 postos indígenas. Jader de Figueiredo e sua equipe constataram diversos crimes, propuseram a investigação de muitos mais que lhes foram relatados pelos índios, se chocaram com a crueldade e bestialidade de agentes públicos. Ao final, no entanto, o Brasil foi privado da possibilidade de fazer justiça nos anos seguintes. 

Albuquerque Lima chegou a recomendar a demissão de 33 pessoas do SPI e a suspensão de 17, mas, posteriormente, muitas delas foram inocentadas pela Justiça. Funcionários que haviam participado do trabalho foram exonerados. Quem não foi demitido foi trocado de função, numa tentativa de esconder o acontecido. Em 13 de dezembro do mesmo ano o governo militar baixou o Ato Institucional nº 5, restringindo liberdades civis e tornando o regime autoritário mais rígido.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Golpe de Estado na Guatemala em 1954

wikipedia



Mapa da Guatemala
 
 
O golpe de estado que abalou a Guatemala em 1954 foi uma operação denominada PBSUCESS organizada pela CIA para derrubar Jacobo Arbenz Guzmán, o presidente democraticamente eleito da Guatemala.

O governo Arbenz introduziu uma série de reformas que a inteligência americana considerou como atribuídos aos comunistas e de influência soviética, como a apreensão e expropriação de terras não utilizadas que corporações privadas retiradas há muito tempo, e distribuição dessas terras para camponeses. Este foi o primeiro golpe de estado promovido pela CIA na América latina.[1][2]


Isso fomentou o receio nos EUA de que a Guatemala se tornaria o que Allen Dulles chamou de "uma praia Soviética na América" (uma posição inimiga para a invasão). Esta situação criou um impacto na CIA e na administração Eisenhower durante a época do Macartismo. O Presidente Arbenz promulgou essencialmente uma reforma agrária que antagonizava a multinacional norte-americana United Fruit Company, com interesses oligarquicos e influências na Guatemala, através de "lobbyings" nos EUA.

A operação, que durou apenas a partir de finais de 1953-1954, foi planejada para armar e treinar para um "exército de libertação" assumir o país, com cerca de 400 rebeldes sob o comando de um oficial exilado do exército guatemalteco o coronel Carlos Castillo Armas com uma coordenação ardil do complexo diplomático, económico e propaganda em grande parte experimental. A invasão foi precedida de um plano desde 1951, chamado PBFORTUNE para financiar e fornecer armas e suprimentos para as forças opostas ao presidente. Após a invasão a Operação PBHISTORY, a fim de dedicar-se à recolha de documentos para incriminar o governo Arbenz de fantoche comunista.

Ao longo das próximas quatro décadas após a derrubada de Arbenz, a sucessão de governantes militares iria criar uma guerra de contra-insurgência, que desestabilizou a sociedade guatemalteca. A violência causou a morte e o desaparecimento de mais de 140.000 guatemaltecos, e alguns ativistas dos direitos humanos, coloca o número de mortes tão elevado como 250.000. Em etapas posteriores deste conflito a CIA tentou, com algum sucesso reduzir as violações dos direitos humanos e parou um golpe em 1993 e ajudou a restaurar o regime democrático.

 

Referências

  1. (em português) Espaço acadêmico - A CIA e a técnica do golpe de Estado. Artigo de Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira. Site acessado em 3 de Dezembro de 2010.
  2. (em português) PUCSP - O primeiro grande êxito da C.I.A. na América Latina. Acessado em 3 de Dezembro de 2010.

Guatemala. “Uma criança de sete anos foi violada por tantos soldados que acabou morrendo”



unisinos

Mesmo em uma sociedade endurecida pela violência como a guatemalteca, os testemunhos das mulheres da etnia Ixil, vítimas de violações em massa durante as incursões militares nas comunidades camponesas, comoveram, nesta terça-feira, todo o país, em uma nova sessão horripilante do julgamento do genocídio contra o ex-ditador Efraín Ríos Montt. Por respeito à dignidade das vítimas, a juíza Jazmín Barrios, que preside o julgamento pelas atrocidades cometidas entre 1982 e 1983, pediu à imprensa para não revelar os nomes destas mulheres, que recordaram diante da justiça o horror vivido há três décadas.

A reportagem é de José Elías e publicada no jornal espanhol El País, 02-04-2013. A tradução é do Cepat.

A primeira a declarar narrou que tudo começou quando quatro soldados bateram à porta da sua humilde casinha. Entraram à força quando entreabriu a porta. “A primeira coisa que perguntaram foi se dávamos comida aos guerrilheiros. Respondi que sequer os conhecia”, disse a testemunha. “Na casa estava a minha filha, de 17 anos, e dois de seus irmãos menores. Os soldados a desnudaram, abriram à força suas pernas e começaram a violentá-la, na presença das crianças, que choravam de medo”.

Com a voz estremecida, esta mulher relatou que, quando quis ajudar sua filha, um dos soldados lhe deu uma coronhada na boca do estômago e outra na cara. A força do golpe, acrescentou, a fez cair. Perdeu um olho. Acrescentou que sua filha foi violentada pelos quatro na cama do casal. A perguntas da defesa, acrescentou que não conseguiria reconhecer os algozes, mas que tem a certeza de que eram soldados. Em meio à agressão, as crianças puderam fugir e procurar refúgio nas montanhas.

Outra testemunha disse que um grupo de soldados chegou até sua casa em torno das 21h. Levaram-na a um lugar descampado, onde a violentaram e a deixaram abandonada, nua. Acrescentou que nessa época tinha um bebê de 30 dias, que morreu calcinado quando os militares atearam fogo na sua casa. “Nem sequer pude enterrá-lo, porque a casa estava em cinzas e eu estava com muito medo”, acrescentou.

Estes fatos se repetiram contra a população camponesa em todas as zonas nas quais o Exército suspeitava da existência de acampamentos guerrilheiros e aplicava a doutrina da terra arrasada. As violações, segundo o relatório Recuperação da Memória Histórica (Remhi), da Conferência Episcopal Guatemalteca, “incluem a morte. Foram utilizadas como instrumento de tortura a escravidão sexual, com a violação reiterada da vítima”. As estatísticas assinalam que os casos de violência sexual contra mulheres se deram em um de cada seis casos nos massacres perpetrados pelos soldados ou pelos paramilitares Patrulhas de Autodefesa Civil (PAC), voluntários utilizados como espiões e delatores de seus vizinhos.

Embora existam denúncias documentadas de 149 vítimas, acredita-se que houve bem mais, dados fatores como os sentimentos de culpa e de vergonha que acompanham estes crimes. Uma das mulheres que testemunharam pediu à juíza Jasmán Barrios que sua identidade não fosse revelada, porque nem sua família nem seu atual esposo sabiam que havia sido violentada.

Os testemunhos, muitos deles já recolhidos no relatório da Comissão de Esclarecimento Histórico, patrocinada pela ONU, ou no Remhi do bispo Juan Gerardi, adquirem uma nova dimensão quando cobram vida em mulheres que agora estão entre os 50 e os 60 anos, mas que naquela época eram apenas adolescentes.

“Se tens marido, então entre cinco e dez soldados te violentam. Se és solteira, então são 15 ou 20”, disse uma. “Meu tio ia por um caminho com sua filha e uma neta quando se depararam com uma patrulha militar. Conseguiram pegar as mulheres. A menina, de sete anos, a mataram, porque foram muitos os soldados que passaram sobre ela”.

Os requintes de crueldade deixam, literalmente, os cabelos em pé. “Alguns soldados estavam com sífilis ou gonorreia. A ordem foi que estes ficariam por último, quando os saudáveis já haviam violentado a vítima”. A isto é preciso acrescentar as gravidezes não desejadas. Todos os testemunhos concordam em assinalar os autores como membros do Exército ou das PAC.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Comissão da Verdade recebe denúncia para investigar atuação de Roberto Marinho durante a ditadura

quarta-feira, 3 de abril de 2013

saraiva 

 De Carlos Newton, na Tribuna da Imprensa, ontem:

A denúncia do ex-deputado paulista Afanasio Jazadji sobre irregularidades cometidas por Roberto Marinho durante o regime militar, encaminhada inicialmente a Presidência da República, já foi recebida pela Comissão Nacional da Verdade.

O requerimento do ex-parlamentar foi acompanhado de diversos anexos, inclusive o depoimento do ex-deputado Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma Rousseff, que sugeriu à Comissão da Verdade que apurasse também os atos praticados por empresários que apoiaram a ditadura e por ela foram beneficiados.

(...)
Quando o chamado ciclo militar da Revolução de 1964 estava realmente chegando ao fim, devido à convocação da eleição indireta para eleger o primeiro presidente civil em 15 de janeiro de 1985,  o jornalista Roberto Marinho, dono das Organizações Globo, fez questão de publicar um revelador editorial de página inteira em seu jornal O Globo, do Rio de Janeiro, enaltecendo o regime militar e fazendo uma clara advertência àqueles que participavam do histórico movimento pela redemocratização do Brasil, como se fosse possível uma recaída ditatorial.

É claro esse apoio à ditadura e essa deliberada omissão em sua atividade jornalística renderam grandes benefícios a Roberto Marinho, em especial, a transferência ilegal da concessão do canal 5 de São Paulo (TV Paulista), obtida por ele mediante crimes societários até confessados em juízo pelos próprios advogados da TV Globo, quando já estavam prescritos, é claro.

Depois de 12 anos de funcionamento irregular, de 1965 a 1977, com a concessão ainda em nome dos legítimos controladores da TV Paulista, as autoridades do regime militar fecharam os olhos e aceitaram como legal uma Assembleia Geral Extraordinária totalmente irregular, presidida pelo próprio Roberto Marinho e com o claro objetivo de excluir da sociedade os seus 673 acionistas fundadores, como registrado em ata fraudada, mas aceita pelo regime militar como boa, normal. [íntegra aqui]

 

 

O estopim do golpe?

revistadehistoria

‘Festa’ de marujos com direito a apoio às Reformas de Base, em 25 de março de 1964, teria contribuído para a deposição do presidente João Goulart, dias depois

Anderson da Silva Almeida

Correio da Manhã de 27 de Março de 1964


Era dia 25 de março de 1964. Reunidos no Sindicato dos Metalúrgicos da Guanabara, mais de 1,5 mil marinheiros e fuzileiros navais pretendiam comemorar os dois anos da fundação de sua Associação. Mas o clima não era agradável. Um dia antes, os jornais já noticiavam que parte da diretoria seria presa em virtude de terem se manifestado contra o ministro da Marinha, almirante Sylvio Motta, na semana anterior. Entre os dirigentes procurados, estavam o marinheiro José Anselmo dos Santos – presidente da Associação; o cabo Marcos Antônio da Silva Lima – vice-presidente; e o também marinheiro Antônio Duarte dos Santos – presidente do Conselho Deliberativo. Entre os que já estavam presos, o segundo vice-presidente Avelino Capitani e José Duarte dos Santos, que no período após o golpe de 1º de abril de 1964, iriam se tornar importantes quadros da esquerda armada no Brasil.

Naquele dia de março, já havia se passado 54 anos da Revolta da Chibata; e os marinheiros brasileiros não sofriam mais castigos corporais de seus superiores.

O nível de escolaridade havia melhorado, as formas de admissão já não eram tão desastrosas e a Marinha de Guerra continuava o processo de profissionalização de seu pessoal. Em 1960, cinco Escolas de Aprendizes-Marinheiros, situadas nos estados de Pernambuco, Ceará, Bahia, Santa Catarina e Espírito Santo funcionavam como núcleos de formação dos marinheiros brasileiros. Outros, não oriundos destas escolas, ingressavam através do recrutamento ou como soldados Fuzileiros Navais, recebendo formação em diferentes centros espalhados pelo país, sendo o Rio de Janeiro o principal deles. No entanto, novos problemas que envolviam a questão da cidadania dos marujos surgiram e, mais uma vez, como na canção de João Bosco e Aldir Blanc, “o Dragão do Mar reapareceu”! [Sobre a Revolta de 1910, ver RHBN, edições 9, 44 e 53].


Cabo Anselmo
O “cabo” Anselmo – que na realidade tinha a graduação de marinheiro -, por exemplo, foi preso após o golpe de 1964, depois de ter deixado o asilo na embaixada mexicana. Em 1966, conseguiu fugir da prisão com a ajuda de militantes da esquerda armada e foi enviado a Cuba para treinamento guerrilheiro. Ao regressar ao Brasil no ano de 1970, passou a agir como agente duplo e levou dezenas de militantes para a morte, inclusive sua companheira, a paraguaia Soledad Barret Viedma, que estava grávida.

As questões disciplinares foram alguns dos aspectos que contribuíram para exaltar os ânimos e consolidou a posição do alto escalão da Marinha de não reconhecer a entidade que representava a base da pirâmide hierárquica da instituição. Desde a fundação a Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB), em 25 de março de 1962, seus dirigentes tentavam o reconhecimento oficial da Marinha, o que possibilitaria, entre outras coisas, que as mensalidades dos sócios fossem descontadas diretamente no contracheque dos associados. Em virtude da conjuntura política brasileira, cujos ânimos acirraram-se pelo menos desde a renúncia do presidente Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961, o ambiente nos quartéis também foi contaminado. A aparição dos marujos na cena política - em eventos de sindicatos, em apoio a sargentos eleitos para cargos políticos e em manifestações em prol de João Goulart - não era aceita pela Marinha, pois só os almirantes tinham o monopólio da palavra e podiam expressar suas opiniões de caráter político.

No espaço interno, a AMFNB cresceu assustadoramente e em pouco menos de dois anos já contava com cerca de 15 mil sócios. Seus dirigentes organizaram serviços de atendimentos médicos para as companheiras - visto que não podiam casar oficialmente e suas esposas não eram reconhecidas pela Marinha como tais; criaram o jornal A Tribuna do Mar; conseguiram um programa na importante Rádio Mayrink Veiga; obtiveram o reconhecimento de utilidade pública estadual; firmaram convênios com o ministério da Educação para aquisição de material didático; articularam apoio e passaram a utilizar espaços cedidos pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Na mesma proporção do prestígio, as reivindicações frente à Marinha também foram ampliadas. Passaram a requerer melhorias nas condições de vida a bordo dos navios e quartéis, incluindo alimentação e alojamentos; direito de andar à paisana em suas folgas; autorização para estudar e casar; reformas no plano de carreira e conquista da estabilidade aos dez anos de profissão. Em relação aos aspectos políticos reivindicavam o direito de votar para cargos políticos. Queriam, sem dúvida, ser considerados cidadãos.


No dia da assembleia comemorativa, ou dia da festa, uma presença chamou a atenção da imprensa: João Cândido Felisberto. Importante liderança dos marujos revoltosos de 1910, João Cândido foi descoberto pelos marujos de 1964 morando em condições precárias na região de São João de Meriti, no Rio de Janeiro, e passou a ser tratado como herói pelos membros da AMFNB, inclusive recebendo uma ajuda mensal da instituição. Em 25 de março de 1964, João Cândido foi o convidado de honra. Também estiveram presentes no encontro o deputado Max da Costa Santos – representando o presidente da República; os membros do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) Hércules Corrêa e Dante Pelacani; o deputado sargento Garcia Filho e representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE).


Apoio às reformas de base
O fato de parte da diretoria estar presa ajudou a acirrar ainda mais os ânimos dos presentes. O presidente da Associação, José Anselmo, destacou em seu longo discurso o apoio às Reformas de Base do governo Jango. O cabo Cláudio Ribeiro propôs que os marinheiros se apresentassem presos e ficassem nessa condição até que seus companheiros fossem soltos e a AMFNB reconhecida pela Marinha. A proposta foi aceita e a festa ganhou ares de rebelião. Após intervenção do marinheiro Otacílio, decidiram permanecer no sindicato, pois a maioria morava nos navios e não teria onde ficar com segurança.

Ao tomar conhecimento da decisão dos marinheiros, o ministro da Marinha decretou Regime de Prontidão Rigorosa, situação na qual todos os militares deveriam se apresentar em suas Organizações Militares. Como não foi atendido, determinou ao almirante Cândido da Costa Aragão, Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, que enviasse uma tropa para prender os rebelados. Aragão não conseguiu cumprir a ordem, pediu exoneração e foi seguido pelo também almirante fuzileiro Washington Frazão Braga. Assumiu a missão Luís Phelippe Sinay que se dirigiu com cerca de 90 fuzileiros navais para a sede do sindicato na manhã do dia 26. Para a surpresa de todos, ao ouvir apelos dos colegas “entrincheirados” que emocionados cantaram o Hino Nacional Brasileiro, parte da tropa arriou suas metralhadoras na calçada e aderiu ao movimento rebelde.

Lá dentro, explosão de euforia, lágrimas e abraços. A essa altura, populares e familiares ofereciam apoio moral e material aos rebeldes, cedendo comida, cigarros e jornais, que naquele dia já noticiavam: “Marinheiros realizam sua reunião e quarenta vão ser presos” (Jornal do Brasil, 26/03/1964, capa e p. 05); “Marinheiros e Fuzileiros realizam reunião agitada” (Correio da Manhã, 26/03/1964, p.02); “Marinheiros e fuzileiros vão se apresentar presos se não forem libertados seus colegas” (O Globo, 26/03/1964, p.11).

Após a adesão dos fuzileiros, o ministro Motta pediu ajuda do Exército, recebendo apoio de nove caminhões e 12 tanques de guerra para cercar todo o quarteirão da Rua Ana Nery. Com o risco da invasão e a possibilidade de mortes iminente, Jango resolveu voltar de sua folga no Rio Grande do Sul e assumir as negociações. Na manhã do dia 27, mais um episódio causaria comoção geral na marujada. O marinheiro Alcides chegou todo molhado e informou que colegas tinham sido atingidos por tiros no Arsenal de Marinha da Praça Mauá, quando tentavam se dirigir ao sindicato. À tarde Jango tomou a decisão de substituir o ministro Sylvio Motta pelo almirante da reserva Paulo Mário da Cunha Rodrigues. Os marujos comemoraram em liberdade, chegando a erguer nos ombros o almirante Aragão em agradecimento por sua recusa em reprimir violentamente o movimento. Tentando apaziguar os ânimos, o novo ministro, com o aval de Jango, optou por não punir os rebeldes, alegando que “teria que começar pelos almirantes”.

A “anistia” dada aos marujos levou militares indecisos, a grande imprensa e setores da sociedade a pregar abertamente o golpe contra João Goulart. Os marinheiros e fuzileiros que criaram, organizaram e consolidaram a Associação teriam que conviver durante muitos anos com o estigma de provocadores do Golpe ludibriados por um suposto agente infiltrado na AMFNB, que seria ninguém menos que o presidente José Anselmo, vulgo “cabo” Anselmo. Vários marinheiros que se destacaram como lideranças no período, foram expulsos e condenados a vários anos de prisão. Outros, que tiveram atuações destacadas nas organizações das esquerdas armada, a exemplo de Avelino Capitani, Marcos Antônio da Silva Lima, Cláudio de Souza Ribeiro e José Raimundo da Costa, tiveram suas trajetórias silenciadas e apagadas da história recente do Brasil.




Anderson da Silva Almeida é autor de Todo o leme a bombordo – marinheiros e ditadura civil-militar no Brasil: da Rebelião de 1964 à Anistia. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2012. prêmio Memórias Reveladas, 2010.


A vez dos militares da reserva


revistadehistoria

Comissão Nacional da Verdade vai convocar para depor coronéis Ustra e Curió. Ambos são acusados de terem sido mandantes de crimes de tortura durante a ditadura civil-militar

Aline Salgado


Especial Guerrilheiros - Com o poder de convocar quem achar necessário para depor, delegado pela própria Presidente da República, a Comissão Nacional da Verdade prevê chamar para depor os dois principais militares que dirigiram a caça aos opositores políticos durante o Regime Militar. Hoje coronéis da reserva, Carlos Alberto Brilhante Ustra e Sebastião Curió Rodrigues de Moura, o Major Curió, são apontados como mandantes de assassinatos e crimes de tortura durante a ditadura civil-militar.

Psicanalista e membro da Comissão Nacional da Verdade (CNV), Maria Rita Kehl esclarece que se os militares convocados não comparecerem à chamada, serão processados por crime de desobediência. "Até agora, ninguém se recusou a depor na comissão, mas também, até agora, não chegamos no Major Curió e no Ustra. Não testamos o nosso poder até às últimas consequências", afirma Kehl, que faz questão de destacar que a comissão não "trará ninguém amarrado para depor".

Para familiares dos desaparecidos políticos e integrantes do Grupo de Trabalho do Araguaia (GTA), que procura as ossadas dos guerrilheiros em meio à Floresta Amazônica, os depoimentos dos coronéis da reserva poderiam ajudar a revelar onde foram enterrados ou depositados os restos mortais dos militantes políticos.

"Seria formidável que um novo pacto civilizatório fosse fechado e que esses militares da reserva viessem à Comissão Nacional da Verdade e à Justiça Federal e dessem suas posições. É o mínimo que esperamos", afirma Gilles Gomes, coordenador-Geral da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.


Já a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) quer mais. Busca a punição daqueles que são apontados como principais torturadores do regime. "A Justiça de Transição, do regime de exceção para o regime democrático, está estruturada sobre três requisitos:  reparação às vítimas; direito à memória e à verdade; e punição aos agentes de Estado que cometeram crimes contra a humanidade. O Brasil cumpriu com a indenização, por meio da Comissão da Anistia; está cumprindo com a memória e verdade por meio da Comissão da Verdade;  mas ainda não cumpriu e nem cumpre com a punição ao agentes de estado que violaram os direitos humanos. É preciso punir  e exigir que eles revelem onde estão dos corpos dos desaparecidos", avalia Cezar Britto, presidente da Comissão Especial da Verdade do Conselho Federal da OAB.

Para garantir que o país cumpra com todos os requisitos da chamada Justiça de Transição, a Ordem acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) com um embargo de declaração, pedindo a revisão do posicionamento da Corte que absolveu os militares, considerando-os anistiados pela Lei de 79.  Em outra palavras, por meio da ação, a OAB provocou a Corte brasileira para que ela se manifeste sobre os efeitos do Acórdão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que entendeu que as leis de autoanistia, com o caso da Lei de 79, são inconstitucionais.

"A Constituição diz que o crime de tortura não pode ser anistiado. Sendo assim, acreditamos que o Estado está sendo omisso ao não cumprir com o dever de punição. Mesmo absolvendo os torturadores por considerarem que estavam anistiados pela Lei de 79 [a Lei da Anistia], acreditamos que o Supremo não pode se abster depois do posicionamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que condenou o Estado brasileiro pelos crimes de tortura e desaparecimento forçado de opositores do regime", diz Cezar Britto.

Assessor jurídico da OAB Nacional, Oswaldo Ribeiro, aponta para uma outra falha no argumento dos ministros do Supremo que anistiaram os militares. "O Supremo considerou que os crimes estavam prescritos, mas o desaparecimento forçado de pessoas e a ocultação de cadáver são crimes, cuja prescrição só inicia quando identificada a vítima, o que ainda não aconteceu. Por isso, nesse quesito, eles não estariam acobertados pela prescrição", explica Oswaldo, que esteve em audiência com o relator da ação, ministro Luiz Fux, e pediu preferência na apreciação da matéria. Ainda não há previsão de quando o STF vai julgar o embargo de declaração da OAB.

O 1º de abril

revistadehistoria

Um presidente deposto e outro conduzido ao poder por homens armados marcam o início da Revolução ‘Democrática’ de 1964. Entenda os eventos que levaram à instauração da ditadura civil-militar no Brasil

João Roberto Martins Filho

 Tropas mineiras se deslocam em Brasília em 4 de abril de 1964. 
No mesmo dia, Jango fugiu para o exílio / 
Imagem: Arquivo Nacional

No dia 27 de março de 1964, o governador da Guanabara, Carlos Lacerda (1914-1977), mandou a família para a casa de amigos e resolveu dormir no Palácio Guanabara. Apelidado de “O Corvo”, por seu nariz adunco e sua participação na crise que levou ao suicídio de Getulio em agosto de 1954, o conspirador via chegada a hora do acerto de contas com seus inimigos políticos. Em sua avaliação, a situação do país tinha atingido o ponto de não retorno. O sinal verde para o golpe abriu-se com a Revolta dos Marinheiros e o discurso radical do presidente João Goulart no Automóvel Clube, no dia 30 de março, para um público de sargentos e suboficiais.

A radicalização de Goulart dava ares de verdade à mensagem de que ele se rendia ao comunismo. No começo de março, com a adesão do sempre cauteloso general Castello Branco ao movimento, a relação de forças no seio das Forças Armadas começara a pender a favor do golpe. Mas ainda pairava no ar o fantasma de um confronto com o “dispositivo militar” do presidente, comandado pelo chefe da Casa Militar, general Assis Brasil. Chegou-se a uma situação na qual o que contava era a capacidade de cada lado de arregimentar legiões.

Respeitado no Exército, Castello Branco sabia que, sem o apoio da maioria dos oficiais, o movimento anti-Goulart fracassaria. No campo civil, as “Marchas da Família com Deus pela Liberdade” tinham feito seu papel, permitindo dizer que o povo brasileiro chamava as Forças Armadas para salvar o país do comunismo.

Na manhã de 31 de março, o general recebeu com irritação a notícia de que a ala mineira da rebelião resolvera precipitar os acontecimentos. Carlos Luiz Guedes, comandante da Infantaria Divisionária 4, e Olympio Mourão Filho, chefe da 4ª Divisão de Infantaria, de Juiz de Fora, agiam em acordo com o governador Magalhães Pinto. Por volta das 7 horas da manhã do dia 31 de março, o general Castello Branco ligou para Magalhães pedindo que convencesse Mourão a não deslocar seus homens para o Rio de Janeiro. Não obteve sucesso. Batizada de “Coluna Tiradentes”, a tropa saiu de Juiz de Fora à tarde, sob o comando do general Antonio Carlos Muricy, atingindo a divisa com o Rio de Janeiro no final do dia.

Na ex-capital do país, o chefe da Casa Militar do governador, coronel Fontenelle, mandou bloquear as ruas de acesso ao palácio com caminhões de lixo, temendo um ataque de tropas legalistas. Na Praia de Botafogo, vista como alvo provável de um desembarque de fuzileiros navais comandados pelo almirante Aragão, inimigo público e visceral de Lacerda e partidário de Goulart, Fontenelle mandou colocar tonéis de petróleo vazios.

Atraída pelos rumores, uma pequena multidão se concentrou nos arredores do Palácio Guanabara. Sarcasticamente, o próprio Lacerda descreveu anos depois a movimentação: “Então apareciam no Guanabara uns velhinhos, uns almirantes reformados, uns generais reformadíssimos, que saíam de casa com a sua pistolinha! Mas apareceu também uma rapaziada enorme, gente para todo lado, gente que ficava nas esquinas atrás de colunas”.

Surgiram boatos de que o Corpo de Fuzileiros Navais estaria se deslocando da Ilha do Governador para atacar Lacerda. As linhas telefônicas do Palácio foram cortadas, com exceção de uma, graças à qual Lacerda conseguiu se comunicar com o governador Ademar de Barros, em São Paulo, e com a UnitedPress, no exterior. O governador de Pernambuco, Miguel Arraes, pronunciou-se em defesa do regime constitucional. No Paraná, seu colega Nei Braga anunciou apoio ao golpe.

No histórico prédio do Ministério da Guerra, no Rio, em seu gabinete da Chefia do Estado-Maior do Exército, o general Castello Branco acompanhava o desenrolar dos fatos. Caberia a ele neutralizar qualquer movimento de tropas a partir do Rio de Janeiro ou de Petrópolis para enfrentar a coluna de Mourão. Em telefonema a Lacerda, Castello procurou explicar que a questão agora era militar: São Paulo, o Nordeste e o Rio Grande do Sul precisavam se definir. Feito isso, as tropas paulistas e mineiras marchariam em diversas colunas para o Rio de Janeiro. Em nenhum outro lugar os acontecimentos foram tão decisivos.

Em São Paulo, às 22 horas, Ademar de Barros declarou apoio ao golpe. Uma hora depois, o general Amaury Kruel, chefe do II Exército, com sede na capital paulista, aderiu ao movimento, após tentar convencer Goulart a demitir ministros “comunistas”. Às 2 horas da manhã, Ademar foi de novo à televisão anunciar que as tropas do general Kruel seguiam pela Via Dutra rumo ao Rio de Janeiro, para se reunir à “Coluna Tiradentes”. Entre os paisanos, os governadores de Goiás, Mato Grosso e dos estados do Sul tinham declarado apoio ao golpe.

Como disse depois o general Cordeiro de Farias, “o Exército dormiu janguista no dia 31 e acordou revolucionário no dia 1º”. A coluna de Minas Gerais defrontou-se, na altura do Rio Paraibuna, com o batalhão de Petrópolis, chefiado por um tenente-coronel de nome Kerensky. Os tenentes de Mourão conversaram diretamente com seus camaradas vindos do estado da Guanabara, conseguindo sua adesão. Às 3h30, o marechal Odílio Denys, ex-ministro da Guerra, visitou a coluna e logrou, por telefone, convencer o coronel comandante do Regimento Sampaio a alinhar-se às legiões em revolta.

Gradualmente, a hipótese de confronto militar se extinguia. Às 7 horas, Mourão e seus comandados puseram-se de novo em movimento. Alguns oficiais da Força Aérea levantaram voo de Pirassununga (SP) com o objetivo de atacar as colunas golpistas, mas não receberam ordens para disparar. Também na Força Aérea, o esforço miúdo de doutrinação do pré-golpe mostrava resultados. Às 12 horas, o Regimento de Artilharia de Costa, ao lado do Forte de Copacabana, foi neutralizado pelo impulsivo general Montagna, que ultrapassou a assustada sentinela dando-lhe um empurrão. Do Recife, o general Justino Alves Bastos, comandante do IV Exército, anunciou seu apoio. Ações isoladas dos fuzileiros navais do almirante Aragão não conseguiram virar o jogo militar. O “almirante vermelho” acabou preso.

Jango resolveu deixar o Rio de Janeiro pouco antes das 13 horas, embarcando para Brasília. O ministro da Justiça, Abelardo Jurema, foi detido no Aeroporto Santos Dumont e levado para a Escola de Comando e Estado Maior do Exército, na Urca, um dos centros nervosos do movimento. No Recife, às 20 horas, tropas do Exército prenderam o governador Miguel Arraes, conduzido a um quartel, de onde seria transferido, no dia 2, para Fernando de Noronha.

Reunidos na Cinelândia, manifestantes pró-Goulart tentaram invadir o Clube Militar, mas foram rechaçados a tiros. Instigados ao vivo pelo apresentador de rádio e de TV Flávio Cavalcanti, bandos anticomunistas atearam fogo à sede da União Nacional dos Estudantes, a UNE, na Praia do Flamengo. Em toda a cidade, tropas policiais e militares começaram a prender líderes políticos ligados a Goulart. A Faculdade Nacional de Filosofia foi atacada a tiros de metralhadora.

No Centro da cidade, uma reunião de emergência convocada pelo Comando Geral dos Trabalhadores foi dissolvida, com prisões de alguns líderes importantes. O jornal Última Hora, de Samuel Wainer, foi empastelado. Às 17 horas, oficiais da Marinha conseguiram tomar o prédio de seu ministério. Houve violentos conflitos entre manifestantes e soldados nas ruas da ex-capital, com mortos e feridos.

Às 23h30, Goulart voou para Porto Alegre, onde esperava resistir com apoio do Exército. De madrugada, com o Congresso Nacional cercado por tropas militares e sob protesto de um grupo de parlamentares, seu presidente, o senador Auro de Moura Andrade, declarou a vacância da Presidência, embora o presidente ainda estivesse em território nacional. Às 11h45 do dia 2 de abril, ele fugiu para São Borja, dali rumando para uma fazenda no Uruguai.

Por alguns dias, para dar uma aparência de legalidade ao golpe, a Presidência da República passou a ser ocupada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli. Conduzido ao Planalto “em um carro literalmente coberto por homens armados”, como relatou o terceiro secretário da Embaixada Americana em Brasília, Robert Bentley, Mazzilli tomou o poder na calada da noite. Ainda no dia 2, os Estados Unidos reconheceram o novo regime. Começava o período da oficialmente chamada Revolução Democrática de 1964.

João Roberto Martins Filho é professor da Universidade Federal de São Carlos e organizador de O golpe de 1964 e o regime militar: novas perspectivas (Edufscar, 2006).



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