sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Os mistérios do coronel assassinado em Porto Alegre


 

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/515161-os-misterios-do-coronel-assassinado-em-porto-alegre

As pistas colhidas pela Polícia Civil, até agora, apontam para uma luta entre o coronel Júlio Miguel Molinas Dias e seus captores. Teriam ocorrido disparos de lado a lado, conforme revela o repórter José Luís Costa. Uma reação do militar a um possível assalto é vista pelos policiais como muito provável, já que ele estava armado.

A reportagem é de Humberto Trezzi e publicada por Zero Hora Digital, 02-11-2012.

Provável é, mas o caso ainda está longe de esclarecido. Por vários fatores. O primeiro é que assaltantes, via de regra, não costumam disparar mais de 10 tiros contra suas vítimas. Eles não têm questões pessoais a acertar com elas, querem apenas roubá-las. Por que teriam desfigurado o coronel Dias a tiros? Difícil acreditar em ladrões tão vingativos.

A segunda questão é a própria trajetória do coronel. Ele foi integrante do DOI (Destacamento de Operações de Informações do Exército) durante a ditadura militar. No livro Aventura, Corrupção, Terrorismo - A Sombra da Impunidade, o coronel Dickson Grael (também do Exército) fala que os autores do atentado no Riocentro, em maio de 1981, trabalhavam com Dias no DOI do Rio de Janeiro. Dias, na época, era tenente-coronel e chefiava a repartição encarregada de vigiar a oposição ao regime militar no Brasil. O livro não chega a implicar pessoalmente Dias no atentado a bomba, mas menciona que a tentativa de explodir o centro de eventos envolvia diversos grupos de militares ligados à repressão política, como era o caso dele.

Ou seja, adversários ideológicos não faltavam para Dias.

O envolvimento do DOI no atentado do Riocentro também é mencionado num livro bem mais recente, "Tempos de Guerra", do ex-delegado capixaba Cláudio Guerra. Guerra atuava no temido Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e relaciona mais de uma centena de nomes de envolvidos na repressão política. Guerra será chamado pela Comissão da Verdade, em Brasília, a depor.

A doutrina da comunidade de informações diz que os agentes aposentados — que se envolveram em episódios pesados — devem se acompanhados por algum tempo. O acompanhamento é feito por pessoas bem próximas, sem levantar suspeitas. Depois de uma certa idade, este tipo de aposentado entra para a comunidade dos "esquecidos": aqueles que têm uma idade avançada e vão levar as informações confidenciais para o túmulo.

Algumas perguntas precisam ser feitas, antes de tudo, a respeito do assassinato do coronel Dias:

— Ex-colegas do tempo da repressão teriam motivos para temê-lo?

— Ex-adversários da ditadura política teriam tentado persegui-lo? — Dias conhecia seus captores?

Dias foi sondado ou convocado para falar na Comissão da Verdade, que visa esclarecer assassinatos durante a ditadura militar?

— O que fez Dias nos quase 30 anos posteriores ao fim da ditadura militar?

— Dias colheu inimigos em alguma de suas atividades, depois de se aposentar?

Antes de respondidas estas questões, difícil considerar o caso fechado.

Os arquivos do coronel. A verdade na palma da mão

 Quarta, 28 de novembro de 2012  

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/515913-a-verdade-na-palma-da-mao

Durante mais de quatro décadas, a psicóloga Maria Beatriz Paiva Keller, 52 anos, não teve qualquer notícia sobre a circunstância do desaparecimento do pai, o ex-deputado federal, engenheiro e empresário paulista Rubens Paiva.

Ontem, ela teve acesso aos primeiros documentos que ajudam a elucidar o mistério e lançam luzes sobre um dos episódios mais sombrios da repressão.


A reportagem é de Fábio Prikladnicki e José Luís Costa e publicada pelo jornal Zero Hora, 28-11-2012.

Os papéis que Maria Beatriz recebeu, em solenidade no Palácio Piratini, na Capital, registram a entrada de seu pai no Destacamento de Operações e Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), no Rio, em 1971, e descrevem documentos apreendidos no veículo de Paiva.

Até então, havia apenas relatos verbais sobre o ingresso de Rubens Paiva no DOI-Codi e as circunstâncias em que ele teria permanecido no quartel-símbolo da repressão. Os documentos vieram à tona porque eram mantidos pelo coronel Julio Miguel Molinas Dias, ex-comandante do DOI-Codi, no Rio. Molinas Dias foi morto no dia 1º de novembro, em Porto Alegre, em circunstâncias ainda não esclarecidas.

Emocionada, a filha caçula de Rubens Paiva recebeu o material das mãos do governador Tarso Genro. Após um abraço demorado, voltou para sua cadeira à mesa de autoridades. Colocou o registro de entrada do pai no DOI-Codi sobre a mesa e começou a ler. Ao chegar à última linha, chorou. Esfregou os olhos, por dentro dos óculos e, antes de fazer seu pronunciamento, disse:

– Preciso respirar fundo.

Recomposta, falou:

– Faz 40 anos que meu pai foi tirado de casa daquele jeito. Se compararmos com outros países, por que tanta demora? Por que essa morosidade aqui no Brasil? Por que será que as pessoas não encaram de frente essa história que é trágica, dolorida, mas que precisa ser contada?

Além da prisão de Paiva, as 200 páginas de documentos guardados pelo coronel versam sobre uma estratégia dos militares para acobertar o envolvimento de militares no atentado do Riocentro, em 1981.

O governador Tarso Genro destacou a importância do esclarecimento de episódios nebulosos do período da ditadura.

– Os jovens precisam saber o que aconteceu, precisam estabelecer suas identidades perante a história do país para que a democracia se firme cada vez mais.

O governador também destacou a atuação da Polícia Civil:

– Se fosse em outros tempos, quem sabe esses documentos não viriam para as mãos do governador, do secretário de Segurança. O delegado que fez o inquérito (Luis Fernando Martins de Oliveira) teve uma atitude exemplar, discernimento para perceber o tipo de documento tinha em mãos.

Ao final da cerimônia, Maria Beatriz afirmou que sua primeira medida será compartilhar os documentos com os familiares:

– Gostaríamos de saber o que aconteceu (com Rubens Paiva). Não só para minha família, mas para todas as outras famílias que passaram por uma história parecida.


“Desmontou-se essa farsa”

Ex-procurador-geral da República, Claudio Fonteles, cuja trajetória está associada à defesa dos direitos humanos, coordena a Comissão Nacional da Verdade (CNV). Ontem, ele conversou após receber o acervo das mãos do governador Tarso Genro


Eis a entrevista.

Qual é a importância da revelação destes documentos?
Fundamental. Significa um ato concreto de colaboração com as comissões nacional e estadual da verdade. Inclusive faço um convite para os brasileiros e brasileiras que tenham em suas casas arquivos particulares que os entreguem. É um processo de reconstrução da história do seu país. Não precisa nem se identificar. Basta telefonar e dizer que tem um documento.

 
Que procedimento será dado ao documento mantido pelo coronel Molinas?
Vamos ler ver em que contexto (da história) vai se encaixar. Depois, vamos apresentá-los (ao público). A Comissão Nacional da Verdade já publicou em seu site (www.cnv.gov.br) 80 páginas escritas. Esse documento certamente vai ter o mesmo caminho.


O episódio Rubens Paiva é um dos mais simbólicos dos tempos da ditadura militar?
É um dos mais (simbólicos). Mas são tantos. O Estado ditatorial militar sempre negou isso (a prisão de Rubens Paiva). Essa é a importância do documento, é a quebra dessa mentira brutal. Refiro-me a essas pessoas que o Estado ditatorial disse que eram foragidas. Desmontou-se essa farsa.

“Bateram demais e perderam o controle”. Entrevista com o promotor militar que investiga o sumiço de Rubens Paiva


Por telefone, de seu apartamento no bairro carioca do Leblon, o promotor Otávio Bravo, 44 anos, do 1º Ofício da Procuradoria de Justiça Militar do Rio, falou sobre o caso Rubens Paiva e seu trabalho para tentar desvendar o paradeiro de 39 desaparecidos em poder de repressores durante a ditadura militar.

A entrevista é de José Luís Costa e publicada pelo jornal Zero Hora, 23-11-2012.


Eis a entrevista.

Qual a importância do documento que comprova a entrada de Rubens Paiva no DOI-Codi?
Estamos trilhando uma prova que dá credibilidade à declaração de uma das filhas do Rubens Paiva, que ouviu de um carcereiro que ele morreu lá. Ela nunca tinha sido ouvida por uma autoridade brasileira, por incrível que pareça. Foi presa aos 15 anos, ficou um dia detida no DOI-Codi e ouviu dizer: seu pai morreu.

 
Quantas pessoas o senhor já ouviu?
Umas 15, mas entre outros casos, eu não investigo só isso. São 39 casos de desaparecidos de unidades militares aqui no Rio de Janeiro. O meu maior foco é a unidade clandestina que funcionava em Petrópolis (serra fluminense), a Casa da Morte.

 
Rubens Paiva passou por lá?
Existe uma versão de que ele teria passado, mas nada comprovado. Não teria o porquê. Eram levados para lá pessoas que militavam, que eles (militares) queriam dar fim.

 
O que houve com Paiva?
Não foi uma morte planejada. Foi torturado. Bateram demais nele e perderam o controle. Tanto é que há no inquérito, instaurado em 1986, uma declaração de um militar mencionando que a morte teria sido “acidental”. Era para ter sido preso. Não era um militante, um ativista, não pegava em armas. Pelo contrário, era empresário, cuja morte geraria mais problemas do que soluções.


Rubens Paiva foi assassinado no DOI-Codi?
Para mim, foi assassinado lá, mas já saiu da unidade da Aeronáutica em condições ruins, onde começou a apanhar. Isso sei porque eu tenho o testemunho de duas senhoras que viram ele sendo maltratado.

 
É possível chegar a culpados?

Sim. No caso do Rubens Paiva, se a gente chega aos nomes dos envolvidos, e conclui que ele morreu antes de 1980, aí os crimes de sequestro e de homicídio estariam prescritos e anistiados pela Lei de Anistia, de 1979. Poderíamos dizer quem foram os autores dos crimes, mas não teria como punir essas pessoas.

Não tem como?

Não tem como punir pela Lei da Anistia e porque o prazo de prescrição máximo é de 20 anos. Instaurei o procedimento no ano passado para ajudar a descobrir a verdade e, se possível, encontrar corpos.

 
É possível levar alguém a julgamento?
Sim. Seria ingenuidade achar que o sequestro está em curso. Mas ocultação de cadáver é crime permanente até aparecer o cadáver, e ele não apareceu. É um pouco frustrante depois de se falar em tortura, homicídio, sequestro. Mas, se conseguir identificar pessoas que ocultaram o cadáver, elas podem ser colocadas no banco dos réus por esse crime.

 
E a sua estrutura?
Só eu e minha secretária. É um trabalho bastante pesado. Houve apoio da Secretaria Nacional de Direitos Humanos e da Comissão Nacional da Verdade. Mas não tem apoio de estrutura, estou sozinho. Não há pressão, mas não teve ajuda. Há uma certa resistência das Forças Armadas em fornecer informações meio absurdas de destruição de documentos que a gente sabe que não foram destruídos.

Por que Rubens Paiva foi morto



http://www.ihu.unisinos.br/noticias/515797-por-que-rubens-paiva-foi-morto

Por que Rubens Paiva foi sequestrado em janeiro de 1971, no Rio de Janeiro? Como ele morreu? Onde estão seus restos mortais? Se não era guerrilheiro, por que o engenheiro e ex-deputado federal, então com 41 anos pode ter entrado na lista de executados pelo regime militar?

Em entrevista a ZH, concedida em São Paulo, o escritor e dramaturgo Marcelo Rubens Paiva aportou revelações e esclarecimentos sobre a trajetória do pai. Antes mesmo do golpe que derrubou o presidente João Goulart, em março de 1964, Rubens Paiva estaria marcado pelos generais linha-dura. Deputado pelo PTB (o antigo de orientação trabalhista, não o híbrido atual), fora vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou as ligações do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) com a CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos.


A reportagem é de Nilson Mariano e publicada pelo jornal Zero Hora, 24-11-2012.

Já em 1963, o Ibad era um ninho de conspiradores contrários ao governo Goulart. Inspirados pelo general Golbery do Couto e Silva – depois mentor da ditadura –, integrantes do Ibad alarmavam que o país estava à beira do comunismo. Ao mesmo tempo, recebiam dólares americanos para financiar o golpe de Estado.

– O meu pai tinha cópias de cheques que iam para o Ibad e o Ipes – destaca Marcelo, referindo-se ao Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), outra entidade ocupada em detratar o governo civil.

Alinhado com os líderes trabalhistas João Goulart e Leonel Brizola, Rubens Paiva teve o mandato cassado logo após o golpe de 1964. Exilou-se, mas voltou ao Brasil. Fazia oposição política à ditadura, ajudava perseguidos a conseguir exílio no Exterior, especialmente o Chile, então sob o regime socialista de Salvador Allende.

Com 11 anos em 1971, Marcelo lembra que a casa da família, no bairro Leblon, no Rio, recebia visitas de políticos cassados e adversários da ditadura. Às vezes, era o refúgio de quem estava sendo caçado pela repressão.

– Na minha casa, havia roda de pôquer com o Fernando Henrique Cardoso, Paulo Francis e outros. Meu pai era amigo do Antônio Cândido, do Antônio Callado, do pessoal do Pasquim – conta o escritor.

Rubens Paiva foi detido por soldados da Aeronáutica, em 20 de janeiro de 1971, e depois levado para o Departamento de Operações e Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), porque se comunicava com exilados brasileiros no Chile. Uma mulher foi presa, no Aeroporto do Galeão, com uma carta trazida do Chile para ele.

Marcelo admite que o pai, naquele momento, colaborava com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) – uma das organizações guerrilheiras mais ativas. Rubens Paiva não era do MR8, mas se sentia no dever de ajudar seus membros. Fora eleito deputado com votos dos estudantes, que eram maioria nos grupos armados.

– É claro que ele não participou de ação armada, nem sei se concordava com isso. Mas ajudava aqueles garotos a sair do país – diz Marcelo.

Formado em engenharia, Rubens Paiva fora vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Participara de lutas estudantis e das campanhas nacionalistas, como a da criação da Petrobras. Poderia ter continuado no exílio, no pós-64, mas preferiu regressar para continuar se opondo ao regime militar.

– Foram vários elementos que fizeram com que acreditassem que tinham nas mãos um peixe grande, o meu pai. E havia um acerto de contas. Assim que o meu pai entrou na Aeronáutica, um torturador teria lhe dito: “Pois é, deputado, finalmente vamos nos entender com o senhor” – relata Marcelo.

Rubens Paiva. Revelações para a história



 http://www.ihu.unisinos.br/noticias/515842-revelacoes-para-a-historia

Entre as personalidades que estarão amanhã no Palácio Piratini, em Porto Alegre, uma em especial tem motivos de sobra para se emocionar com a solenidade histórica marcada para as 14h na sede do governo gaúcho. É a psicóloga Maria Beatriz Paiva Keller, 48 anos. Filha caçula do ex-deputado Rubens Paiva, Beatriz tinha apenas nove anos, em 1971, quando o pai foi sequestrado e desapareceu nas mãos de militares.

A reportagem é de José Luís Costa e publicada pelo jornal Zero Hora, 26-11-2012.

O evento marca a entrega dos documentos mantidos pelo coronel do Exército Julio Miguel Molinas Dias, 78 anos, ex-comandante do Destacamento de Operações e Informações – Centro de de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), no Rio, para a Comissão da Verdade e para familiares de Paiva.

O acervo, que versa também sobre o caso Riocentro, era guardado na residência de Molinas, assassinado em circunstâncias ainda não esclarecidas há 25 dias. Parte do que será tornado público Zero Hora divulgou com exclusividade nas edições de sexta-feira e de ontem.

Por morar na Europa e ter menos contato com as mobilizações no Brasil envolvendo a investigação do caso, reaberto pela Promotoria Militar no Rio, Beatriz foi escolhida pelos quatro irmãos mais velhos para representar a família na cerimônia organizada pelo Piratini.

Beatriz e o marido, Daniel Keller, vivem há mais de duas décadas, em Berna, na Suíça, onde ela é servidora da embaixada brasileira. O casal está em viagem pelo Rio de Janeiro, e deverá viajar para Porto Alegre acompanhado de um sobrinho, filho de Vera Silvia Facciolla Paiva, 58 anos, que vive em São Paulo.

– Nós estimulamos a terceira geração da família a participar destes encontros. Em todas as reuniões, sejam com autoridades, organizações de defesa de direitos humanos, comissões da verdade, fazemos questão de que um neto de Rubens Paiva participe – explica Vera, professora da Universidade São Paulo (USP) da área de Saúde Coletiva.

Os Paiva foram convidados para acompanhar o que deverá ser o momento mais marcante da solenidade. A entrega pelas mãos do governador Tarso Genro às comissões Nacional e Estadual da Verdade de documentos oficiais sobre a passagem de Rubens Paiva pelo DOI-Codi, no Rio.

Os registros confirmam que o deputado federal paulista, engenheiro e empresário, cujo mandato foi cassado pela ditadura em 1964, esteve preso do DOI-Codi antes de desaparecer misteriosamente. Trata-se de um “termo de recebimento” de Paiva, com a descrição de roupas e pertences pessoais de ex-deputado, entre eles 14 livros de autores diversos que foram apreendidos pelos militares. É provável que Paiva os carregava imaginando que permaneceria bastante tempo na prisão.

O termo é o primeiro documento oficial conhecido que comprova a presença dele no quartel-símbolo da repressão no Rio, conhecido como Aparelhão. Ao longo de quatro décadas, apenas relatos verbais atestavam que Paiva foi torturado no DOI-Codi.

– Queremos uma cópia desse documento – afirma Vera.

O documento fazia parte do arquivo pessoal do coronel Molinas, assassinado a tiros, em Porto Alegre, em uma possível tentativa de assalto na noite de 1º de novembro, quando ele chegava de carro em sua casa no bairro Chácara das Pedras.

No começo dos anos 1980, Molinas chefiou o DOI-Codi carioca e, ao se aposentar, levou para casa um calhamaço com 200 páginas, contendo ofícios datilografados e manuscritos, parte deles de próprio punho. Além de revelar a prisão de Paiva, os papéis mostram uma manobra dos militares para ocultar o envolvimento de militares na explosão de bombas no Centro de Convenções Riocentro, na noite de 30 de março de 1981, conforme ZH detalhou em sua edição dominical.

Os artefatos deveriam acabar com shows musicais em comemoração ao Dia do Trabalho, acompanhados por 20 mil pessoas. Mas a primeira bomba explodiu dentro de um Puma em que estavam o sargento Guilherme Pereira do Rosário, e o capitão Wilson Luiz Chaves Machado. O artefato detonou no colo de Rosário, que morreu na hora e deixou Machado ferido gravemente. A segunda bomba detonou perto da central elétrica e não causou danos.

Os verdadeiros responsáveis pelo atentado do Riocentro. Entrevista especial com Jair Krischke



http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/entrevista-especial-com-jair-krischke/515928-entrevista-especial-com-jair-krischke


“Fica evidente que havia dentro do Estado brasileiro, mesmo que fosse uma ditadura, um Estado paralelo, um Estado terrorista que praticava crimes hediondos e que lesava a humanidade”, constata o historiador.
Confira a entrevista.

O documento que comprova a prisão do deputado federal e engenheiro Rubens Paiva e o envolvimento do exército com o seu desaparecimento durante a ditadura militar demonstram que a ação do Riocentro “foi planejada e levada a efeito pelo Departamento de Operações e Informações/Centro de Operações de Defesa Interna DOI-Codi do Rio de Janeiro, ou seja, por um setor militar que foi criado como um aparelho da repressão e tinha uma atuação duríssima, porque queriam que a ditadura permanecesse e que se prolongasse indefinidamente”, diz Jair Krischke à IHU On-Line em entrevista concedida por telefone.

Para ele, o documento encontrado nos arquivos do coronel da reserva do Exército Julio Miguel Molinas Dias permite rever a história e confirmar que os militares organizaram um atentado “para adiar a abertura democrática no momento, porque os ‘comunistas subversivos continuavam ativos’”, ironiza.

Krischke prestou seu depoimento à Comissão Nacional da Verdade na última terça-feira, 27-11-2011, denunciando a Operação Condor no Brasil e sugerindo a recuperação de arquivos que estão sobre o domínio do Comando Militar do Sul. “Saio satisfeito após dar meu depoimento, e posso dizer que, finalmente, o nosso país, a exemplo dos demais que já fizeram, está recuperando a história recente do Brasil”, conclui.

Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS, Jair Krischke (foto abaixo) é ativista dos direitos humanos no Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai. Em 1979, fundou o Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, a principal organização não governamental ligada aos direitos humanos da região sul do Brasil. Também é o fundador do Comitê de Solidariedade com o Povo Chileno.


Confira a entrevista.

IHU On-Line Qual a importância e o significado de conhecermos hoje os detalhes da explosão da bomba no Riocentro em 1981?

Jair Krischke –
A partir da análise dos documentos encontrados, fica clara a responsabilidade do Departamento de Operações e Informações/Centro de Operações de Defesa Interna DOI-Codi do Rio de Janeiro no episódio, apesar de eles terem negado o caso. Foi instaurado um inquérito policial que, claro, não resultou em nada, mas prova que os autores do caso foram eles. Se a bomba não tivesse explodido no carro de dois agentes, teria acontecido um morticínio de mais de 20 mil pessoas que se encontravam no show. Imagina mais de 20 mil brasileiros mortos em uma explosão que queriam atribuir aos comunistas. Os ditadores queriam, mesmo depois da anistia, permanecer no poder, atribuindo esse atentado à esquerda. Então, por isso esses documentos são importantes, pois revelam quem foram os verdadeiros responsáveis pelo atentado e qual a dimensão que esse caso poderia ter tomado.

 
IHU On-Line Em que sentido esses documentos são reveladores para que se esclareça como o episódio do Riocentro está ligado ao centro de comando do aparelho de repressão do Estado?

Jair Krischke –
Toda essa ação foi planejada e levada a efeito pelo DOI-Codi do Rio de Janeiro, ou seja, por um setor militar que foi criado como um aparelho da repressão e que tinha uma atuação duríssima, pois queria que a ditadura permanecesse e que se prolongasse indefinidamente. Então, a ideia deles foi produzir esse atentado e atribuí-lo à esquerda, para adiar a abertura democrática no momento, porque os “comunistas subversivos continuavam ativos”. Então, essa revelação é muito oportuna especialmente neste momento em que há no Brasil uma Comissão Nacional da Verdade, que poderá, a partir desses documentos, aprofundar a investigação e bem mais além do que até hoje foi feita.


 
IHU On-Line Que informações importantes aparecem nos documentos encontrados na casa do coronel Molinas Dias sobre a prisão e morte do deputado cassado pela ditadura Rubens Paiva, desaparecido há 41 anos e cuja morte foi negada pelos militares?

Jair Krischke –
Os documentos comprovam que Rubens Paiva esteve nas mãos do DOI-Codi. Isso evidência que ele foi torturado, assassinado, teve seu corpo desaparecido, e por quem? Por aqueles militares que operavam no DOI-Codi. Esses documentos desmascaram, de uma vez por todas, a autoria desse crime bárbaro. Esse é mais um documento pelo qual a Comissão Nacional da Verdade poderá buscar mais informações. Há uma assinatura neste documento. De quem é a assinatura? Identificando-a, será possível saber se a pessoa que assinou ainda está viva ou não, e se poderá depor na Comissão da Verdade.

Os militares tinham esse costume de negar os crimes que cometiam, crimes hediondos etc. Como eles mantinham esse hábito, negaram o caso envolvendo o deputado Rubens Paiva, que foi exilado e havia retornado ao país para trabalhar como engenheiro. É claro que ele mantinha relações com uma série de pessoas e que, segundo a ditadura, eram pessoas subversivas. Certamente, esta foi a razão pela qual ele foi vítima dessa barbárie.

 
IHU On-Line Como compreender que documentos dessa envergadura estivessem em mãos de uma pessoa?

Jair Krischke –
Esse era um hábito muito cultivado pelos repressores; eles levavam documentos importantes para casa. No caso do Rubens Paiva [1], certamente o coronel não tinha nada a ver diretamente com o assunto, mas guardou os documentos para que, caso algum ex-colega do aparelho repreensivo quisesse lhe denunciar por alguma coisa, teria outras provas. Era uma regra entre os “arapongas” não confiar nem na sua própria mãe. Então, entende-se por que ele teria documentos que não tinham nada a ver com a sua atividade. Por outro lado, aqueles documentos que foram manuscritos, estes sim eram da sua responsabilidade.

 

IHU On-Line O que esses episódios evidenciam sobre as práticas do regime militar com aqueles que eram considerados "inimigos"?

Jair Krischke –
Fica evidente que havia dentro do Estado brasileiro, mesmo que fosse uma ditadura, um Estado paralelo, um Estado terrorista que praticava crimes hediondos e que lesava a humanidade. Tenho esperanças de que no futuro isso irá aparecer e um dia essas pessoas serão responsabilizadas, porque esses são crimes imprescritíveis.

 

IHU On-Line Qual a validade desses documentos para o trabalho da Comissão Nacional da Verdade?

Jair Krischke –
São documentos absolutamente inéditos. Nós nunca antes tivemos qualquer outra manifestação ou documento que narrasse o caso do Riocentro. Esses documentos trazem informações detalhadas, de minuto a minuto; é uma confissão de responsabilidade. Através deste documento se pode buscar outros responsáveis. O coronel estava lá no DOI-Codi comandando a ação, mas havia certamente mais de 20 agentes de campo, os quais ainda não sabemos o nome. Uma investigação poderá apurar essas informações.

Quando foi instaurado um inquérito policial militar, o primeiro militar indicado para presidir o inquérito policial foi o coronel Dickson Grael [2]. Ele deu uma declaração para a imprensa dizendo que faria o inquérito “doa a quem doer”. Imediatamente ele foi afastado. Foi nomeado um segundo coronel, que adoeceu, o qual foi substituído por um terceiro, que fez um inquérito e não apurou nada. Depois, o coronel Dickson Grael se aposentou do exército e escreveu um livro sob o título À sombra da Impunidade, onde aponta o seu dedo acusador para o coronel Júlio Miguel Molinas Dias [3], que era o comandante. O mesmo ele disse para o Jornal do Brasil. Até o momento, só tínhamos esse indicativo. Agora, temos um documento de próprio punho, o que possibilitará uma investigação. Então, por isso a importância dos documentos, já que num passado recente tudo foi negado. Agora, não há dúvida.

 
IHU On-Line Qual a novidade e a motivação que estes dados recentes, principalmente aquele envolvendo Rubens Paiva, traz para os debates sobre a Lei da Anistia?

Jair Krischke –
É tempo de se discutir, e isto vai reforçar aquilo que já está posto, ou seja, de a Lei de Anistia não tem a menor validade no âmbito internacional. O Brasil já está condenado pela Corte Americana de Direitos Humanos a não adotar o critério da Lei de Anistia, que foi uma autoanistia, na verdade. Então, todos esses episódios, e certamente aparecerão outros, irão evidenciar que os crimes foram tão hediondos que o Supremo será sensível, e não irá querer compactuar com eles. Apesar das críticas à Comissão da Verdade, essa é a que nós temos e, como brasileiros, temos o dever de lutar por ela e cobrar tudo aquilo que entendamos que deva ser cobrado.

 
IHU On-Line – O senhor esteve em Brasília nesta semana. Como foi seu depoimento na Comissão Nacional da Verdade?

Jair Krischke –
Prestei o meu depoimento, provando documentalmente que quem criou a Operação Condor foi o Brasil. Documentalmente, provei a primeira Operação Condor em dezembro de 1970, e a segunda em junho de 1971. Fiz um pedido à Comissão, e certamente ficaram comprometidos em executar, em relação aos documentos do DOPS do Rio Grande do Sul. O estado do Rio Grande do Sul foi o único que, publicamente, disse que queimou os documentos do DOPS, em maio de 1982. Mas isso foi uma farsa, uma redonda farsa, porque um ano depois eu resgatei documentos que, segundo o Estado, haviam sido queimados, com duas anotações posteriores à data da suposta queima. Esses documentos foram microfilmados e se encontram em poder do Comando Militar do Sul. Provei isso que estou dizendo e fiz um apelo à Comissão Nacional da Verdade, que tem poderes legais para recuperar, junto ao Comando Militar do Sul, todos esses documentos, que são patrimônio do estado do Rio Grande do Sul e que, neste momento, se encontram em mãos indevidas. Saio satisfeito após dar meu depoimento, e posso dizer que, finalmente, o nosso país, a exemplo dos demais que já fizeram, está recuperando a história recente do Brasil.

 
IHU On-Line Quais são as perspectivas de que os arquivos da ditadura sejam disponibilizados a partir dos trabalhos da Comissão da Verdade?

Jair Krischke –
Muitíssimo boas. Muitos arquivos já estão disponíveis, é só saber buscá-los. Invariavelmente digo que não basta ser alfabetizado, tem que saber buscá-los no Brasil e no exterior também.

 

NOTAS
[1] Rubens Beyrodt Paiva (Santos, 26 de dezembro de 1929 — desaparecido em 20 de janeiro  de 1971):  engenheiro civil e político brasileiro desaparecido durante o regime militar. Era filho de Jaime Almeida Paiva, advogado, fazendeiro do Vale do Ribeira e despachante do Porto de Santos, e de Araci Beyrodt.

[2] Coronel Dickson Grael:
ex-diretor do Riocentro, afastado alguns dias antes do atentado. Coronel da reserva que foi o responsável pela reabertura das investigações sobre as bombas que explodiram no Riocentro, no dia 1° de maio de 1981, matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário e ferindo o capitão Wilson Luís Chaves.

[3] Júlio Miguel Molinas Dias: coronel reformado, 78 anos, foi morto a tiros em frente de casa, em Porto Alegre.O coronel era comandante do destacamento de operações internas do Exército no Rio de Janeiro, na época do caso Riocentro.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Torturem à vontade

Mino Carta

Editorial

02.12.2011 10:42

Não há risco algum, para os especialistas militares e civis, melhor ainda para os seus mandantes . Foto: AE

O repórter Armando Salem, esticado na cama diante da televisão, assiste a um programa  espera do sono, é meia-noite.Alguém bate à porta, a fiel doméstica: “Seu Armando, três senhores chegaram, querem vê-lo, é urgente”. O repórter pensa em alguém da redação chegado em má hora, pragueja, mas calça os chinelos e desce a escada do sobrado. Não alcança o último degrau, mãos poderosas o agarram e o carregam, jardim afora, até jogá-lo, não há precipitação na escolha do verbo, no banco traseiro de um veículo de sinistra memória, a C14 da polícia política. Tempo de ditadura, 1971.

Levado ao Dops, prédio central em São Paulo, catadura albiônica, tijolos à mostra, o repórter encara a figura maciça do delegado Sergio Paranhos Fleury, ícone, diríamos hoje em dia,  dos torturadores nativos. Ali está ele, com seu álgido olhar, porque no aparelho de Joaquim Câmara Ferreira, dito O Velho, o líder comunista assassinado, foi encontrado o calhamaço de uma comprometedora pesquisa realizada por uma equipe da revista Veja encabeçada por Raymundo Pereira e da qual Armando Salem participou. Como se deu que estivesse no covil do grande subversivo?

A pesquisa destinara-se a embasar uma longa, exaustiva reportagem de capa sobre tortura, finalmente publicada em edição apreendida nas bancas em fins de 1969. No meio da papelada recolhida por Fleury, um bilhete: convoca Salem para uma reunião matinal na redação. Agora o então convocado encolhe-se em uma cadeira e repete sem parar: Mino Carta, rua tal, número tal. Meu endereço.

No dia seguinte, sou levado ao Dops, é minha vez. O delegado manda esperar em uma sala de paredes tisnadas, chão de tábuas gastas, no fundo um sofá de almofadas murchas me oferece assento, enquanto um escombro humano foi abandonado no meio do cenário em uma cadeira, ao lado de uma mesa habitada por uma Remington caduca. Outrora talvez se tratasse de um moço, no momento é o retrato da ruína, camisa rasgada, calças sem cinto, sapatos sem cadarço, cabeça pensa, braços caídos, olhos mortiços engolidos pelo vácuo de Torricelli.

A porta se abre, entra Fleury, não veio para me chamar. Vai firme na direção da vítima, pergunta, tom de homilia: “Quer um cigarro, um copo de leite?” Aos meus ouvidos não chega a resposta, vejo, no entanto, o delegado a fincar um cigarro na boca do infeliz e acendê-lo, sai enfim em passadas largas, e logo vem um anspeçada para trazer o copo de leite. Ainda aguardei uma hora, enfim achei-me frente a frente com o delegado. Não sofri violência física, comigo Fleury preferia rosnar apenas, repetiu mais de uma vez “se eu quiser, fecho a sua revista”. Não adiantou esclarecer, mais de uma vez, que Veja é da família Civita.

Sentei-me diante dele mais duas vezes em dias seguidos. Ao cabo os meus extenuados botões sugeriram que eu inventasse uma história plausível, inventei, o papelório indigitado havia sido surrupiado dos arquivos da Editora Abril, ele acreditou, ou fingiu acreditar, quem sabe estivesse extenuado também. Evoco de súbito o notável algoz ao ler que o Tribunal Regional Federal de São Paulo acaba de livrar militares por ações de tortura. Aliás, quantos tribunais para um país tão carente em matéria de justiça, com um jota que haveria de ser grande.

Vale a pergunta, de todo modo: e os torturadores civis? No gênero, Fleury foi um mestre. A tal ponto que quando do golpe chileno ele e sua turma de especialistas seguiram diretamente para o estádio de Santiago incumbidos de dar aulas aos aprendizes locais. Antes Tio Sam entregava tarefas similares a Dan Mitrione e outros que tais, de repente surgeem cena Fleurye desbanca os gringos. O mundo sempre se curva. Diga-se que a polícia nativa tem toda uma tradição neste campo, garantida por recursos genuínos, esquadrões da morte e paus de arara. A tortura é a pior covardia e quem entre nós a executa é imbatível no mister.

Lembro dom Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo de São Paulo, visitava-o no seu sobrado do Sumaré, ele me dizia que os torturadores do Brasil sempre viveram em perfeita impunidade, a serviço da prepotência dos senhores. E vergonhosamente impunes os mandantes, em tempos de ditadura, pluriestrelados generais e autênticos donos do poder, amoitados às suas costas, a lhes subvencionarem os autos de fé. Escreveu Hannah Arendt: quando a verdade factual é omitida, ela soçobra de vez como um barco furado.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A vitória da direita: a pós-política


 Roberto Amaral

CC

 06.12.2011 13:09


O grande projeto da direita, impressa ou partidária, ideológica ou simplesmente financeira, é a destruição das instituições democráticas, mediante a desmoralização da política.

O segundo e último momento é o esvaziamento da soberania popular, como já ocorre na Europa. Daí o ataque aos políticos, uniformemente apontados, ora como incompetentes, ora, caso brasileiro, como corruptos. Todos sabemos como começa esse cantochão, e todos sabemos como termina, aqui e em todo o mundo: na Alemanha, construiu o  nazismo; na Itália, o fascismo; a Grécia dos anos 60 terminou na ditadura dos coronéis (1967-1974). E paro por aqui, para que a listagem não fique enfadonha, com o exemplo brasileiro de 1964, lembrando a campanha da UDN contra a ‘corrupção’ do governo João Goulart, assoalhando o desfile militar. Aliás, sem qualquer originalidade, pois assim fôra construído o golpe de 24 de agosto de 1954, que culminou no suicídio de Vargas.


Como a História não se repete, a estratégia, agora, não é mais operar mediante ditaduras impopulares (a não ser no Oriente), mas exercer o mando direto, pela associação das grandes multinacionais, que já respondem por mais de 50% do PIB mundial, e o sistema financeiro. A banca, que já governa a economia em todo o mundo, resolveu agora ela mesma dirigir os países nos quais seus interesses (leia-se a hiperacumulação financeira especulativa) possam estar ameaçados. O experimento se inicia, de forma descarada, na Grécia e na Itália.

A Europa, diz-nos o insuspeitíssimo Mário Soares, um dos responsáveis pelo desfalecimento da saudosa Revolução dos Cravos, “está entregue aos especuladores”. E, nessa Europa, alguns países (como Alemanha e França) são mais europeus que outros, como Espanha e Portugal, realmente governados pela troika FMI-BCE-Comissão Europeia, da qual a dupla Merkel-Sarkozy é simples pombo-correio.

À Espanha e a Portugal ainda é permitido escolher seus dirigentes, dentre aqueles que se revelem mais competentes e mais dóceis para aplicar as ordens da dupla. Noutros países, os políticos são responsabilizados pelos crimes da banca financeira e para governá-los são chamados os tecnocratas que engendraram a crise: são chamados pela troika e por ela indicados. Sem o menor respeito à soberania popular, e desrespeitando mesmo suas classes dominantes, que sequer foram ouvidas.

As modificações nos governos da Grécia e da Itália — esqueçamos por um momento os personagens medíocres, principalmente o burlesco Berlusconi — configuram um assalto à democracia, à soberania e à política.

O ex-primeiro ministro Papandreou foi ameaçado de crucificação por haver pretendido consultar suas vítimas, o povo grego, sobre a adoção arrocho exigido pelos tecnocratas para a ‘ajuda’ à Grécia, a qual, por seu turno e pelo mesmo motivo, esteve à beira da expulsão da Comunidade Europeia. Assim ficamos sabendo que Papandreou foi penalizado não pelos erros de sua administração desastrada, mas por haver proposto a realização de um plebiscito, um dos mais festejados institutos da democracia.

Isso irritou os democratas Merkel e Sarkozy, com os olhos voltados para seus respectivos sistemas financeiros. Um dia após receber voto de confiança do parlamento grego, Papandreou renunciou para, ainda por exigência da banca internacional, ser substituído por um tecnocrata, Lucas Papademos, egresso do MIT (EUA), que assume com a missão de compor um gabinete ‘técnico’. Fora com os políticos! Na Grécia, na Itália e em todo o mundo, o mal da política é a política. A demissão do ridículo e corrupto Berlusconi —  que deveria estar na cadeia, tantos são seus crimes —  não se deu por decisão judicial, ou, como deve ser no parlamentarismo, por consequência de um voto de desconfiança. Mas sim pelas mãos do anônimo presidente da Itália cumprindo ordens, de novo, do casal Merkel-Sarkozy, locutores da vontade da banca. Assim foi nomeado o tecnocrata Mário Monti (egresso da Universidade de Chicago), nada mais nada menos do que ex-presidente do Goldman Sachs, o famoso gigante do mercado, com o compromisso de compor o gabinete com outros tecnocratas.

Aliás, a intervenção, desta feita, não se fez ‘intra-muros’. Dias antes, o mesmo Goldman Sachs emitira uma ‘nota à imprensa’, na qual, se lia: “Um governo técnico [na Itália] teria maior credibilidade na comparação com outros executivos”. Assim, sem um voto, instala-se a ‘democracia de mercado’, que, em comum a todas as ditaduras, militares ou tecnocráticas, cultiva o sentimento de desapreço ao chamamento da cidadania.

É a pós-política, ou a democracia sem voto.

É o réquiem da União Europeia, e o fim da discurseira que falava nos valores da sociedade ocidental, dentre eles destacando-se a democracia, em nome da qual foram mortos milhões de europeus, argelinos, sírios, líbios, servos, croatas, paquistaneses, indianos, vietnamitas, africanos, afegãos…

Como todo gato escaldado deve temer água fria, seria aconselhável que nossos analistas começassem a dirigir seus olhares para a cena brasileira e fixar-se na campanha unânime que a grande imprensa, não podendo atacar os fundamentos da política econômica do governo de centro-esquerda da presidente Dilma, desenvolve contra a vida política brasileira, tentando fazer com que a cidadania brasileira se convença de que o mal de nosso país não é a desigualdade social da qual ela é servidora, mas a corrupção, da qual é beneficiária (isso não é dito) a classe dominante. 

Neste país estranho, os que não pagam impostos (os ricos) é que reclamam do apetite da Receita, enquanto os sindicatos silenciam quando deveriam estar nas ruas exigindo taxação progressiva; os jornalões se arvoram em defensores da liberdade de expressão quando foram associados e beneficiários da última ditadura.

A direita impressa quer fazer crer que todos os políticos brasileiros são iguais, isto é, corruptos, donde não haver saída pela política. Foi assim que a direita brasileira criou, em 1964, as condições subjetivas para o golpe militar, o qual, em seu primeiro momento, teve respaldo na sociedade brasileira, principalmente junto à classe-média que naquele então influía mais do que agora na formação do que se chama opinião pública.

É construindo a ideia de que o processo representativo não resolve os problemas do país, que os políticos chegam ao poder apenas para realizar suas ‘revoluções’ pessoais, e de que o mal da democracia são os partidos, que a direita constrói o desalento coletivo, tentando fazer com que as grandes massas deixem de ver na democracia a grande alternativa, e na força do voto o poder de mudanças.

A corrupção em nosso país não é maior nem menor do que em qualquer outro país, e nunca foi combatida como está sendo, e não é nem uma deformação da democracia nem da política, porque ao lado do corrupto passivo há sempre um corruptor, que é sempre empresário.

Não é irrelevante (porque, aliás, é inédito) o fato de, em seus onze primeiros meses de governo, sete de seus ministros haverem sido demitidos pela imprensa, seis deles sob acusações de corrupção, ora não comprovadas, ora silenciadas quando o objetivo é alcançado.

Os jornais que trazem o pedido de demissão do ministro do Trabalho já anunciam ‘suspeitas’ sobre outro auxiliar imediato da presidente, o honradíssimo ministro Fernando Pimentel.

No caso mais recente, a Comissão de Ética da Presidência, no meu entender exorbitando de sua competência, pede, publicamente, a demissão de um ministro, esvaziando a presidente da República do direito exclusivo de nomear e demitir seus auxiliares, um dos mandatos do sistema presidencialista que vivemos.

Para evitar novos transtornos, na tal reforma ministerial que a imprensa noticia diariamente como forma de exigência, terá antes a presidente de consultar as quatro famílias que monopolizam a informação no Brasil? Além disso, deverá consultar Febraban, FIESP e CNI?

À sombra da ditadura


Vladimir Safatle

30.12.2011 09:52



 CC
Este será um ano lembrado, entre outras coisas, como aquele no qual o Brasil se viu assombrado por seu passado. Durante décadas, o País tudo fez para nada fazer no que se refere ao acerto de contas com os crimes contra a humanidade perpetrados pela ditadura. Isso o transformou em um pária do direito internacional, objeto de processos em cortes penais no exterior. Contrariamente a países como Argentina, Uruguai e Chile, o Brasil conseguiu a façanha de não julgar torturador algum, de continuar a ter desaparecidos políticos e de proteger aqueles que se serviram do aparato de Estado para sequestrar, estuprar, ocultar cadáveres e assassinar.
 Nesse sentido, não é estranho que convivamos até hoje com um aparato policial que tortura mais do que se torturava na própria época da ditadura. Aparato completamente minado por milícias, grupos de extorsão e extermínio, assim como pela violência gratuita contra setores desfavorecidos da população. A brutalidade securitária continua a nos assombrar. Este é apenas um dos preços pagos por uma sociedade incapaz de dissociar-se dos crimes de seu passado recente.

Outro preço é o tema que mais assombra certos setores da classe média brasileira, a saber, a corrupção. Esquece-se muito facilmente como a ditadura foi um dos períodos de maior corrupção do Brasil. Basta lembrar-se de casos como Capemi, Coroa-Brastel, Lutfalla, Baum-garten, Tucuruí, Banco Econômico, Transamazônica, Ponte Rio-Niterói, entre tantos outros. ver aqui

Eles demonstram a consolidação de um modus operandi na relação entre Estado e empresariado nacional que herdamos da ditadura. Talvez não seja por acaso que boa parte dos casos de corrupção que assolam o País tenha participação de empresas que praticam negócios escusos desde a ditadura. Empresas que tiveram participação ativa, por exemplo, no financiamento da Operação Bandeirantes.

Corrupção e violência policial são apenas dois aspectos do que restou da ditadura. Poderíamos lembrar ainda do caráter imperfeito da democracia brasileira. Temos leis herdadas de períodos totalitários que se esconderam em nosso ordenamento jurídico. Ou seja, esperamos por uma reforma jurídica que racionalize nosso direito a partir de princípios gerais de liberdade social. Seria bom lembrar como temos uma lei constitucional que legaliza golpes militares.

Basta lermos com calma o Artigo 142, no qual as Forças Armadas são descritas como “garantidoras dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. Ou seja, basta, digamos, o presidente do Senado pedir a intervenção militar em garantia da lei (mas qual? sob qual interpretação?) e da ordem (social? moral? jurídica?) para que um golpe militar esteja legalizado constitucionalmente.

Diante desse cenário de desagregação normativa da vida social por causa da incapacidade da sociedade brasileira de elaborar seu passado, poderia esperar-se que a instalação de uma Comissão da Verdade servisse para iniciar um real processo de reconciliação nacional. Temos, porém, sólidas razões para -duvidarmos disso.

Um dos pontos mais aberrantes da comissão é a indicação de que seus integrantes devam ser pessoas “isentas”. Uma piada de mau gosto. Há de se perguntar quem seria suficientemente amoral para ser isento diante de crimes contra a humanidade e atos bárbaros de violência estatal contra setores descontentes da população.

Quem pode ser isento diante da informação de que integrantes do Exército, no combate à Guerrilha do Araguaia, jogavam camponeses de helicópteros e estupravam mulheres da região? Há algo de profundamente intolerável em pedidos de “isenção” nesse contexto.


Um dos exemplos pedagógicos de tal isenção pode ser encontrado no próprio dia de anúncio da criação da Comissão da Verdade. Diante da pressão dos militares, Vera Paiva, filha do deputado desaparecido Rubem Paiva, não pôde ler seu discurso, deixando os parentes de desaparecidos sem voz. Não poderia haver gesto mais simbólico e prenhe de significado. Não haverá voz para enunciar demandas de Justiça que não são apenas de familiares, mas de toda a sociedade brasileira.

Em crimes como os cometidos pela ditadura, não estamos a lidar com o sofrimento individual. Este é um erro cometido inclusive por setores de esquerda que querem “resolver tudo isso o mais rápido possível”. Eles compraram a ideia de que se trata apenas de encontrar reparação adequada para o sofrimento individual, seja por meio de compensações financeiras, seja por meio de anulação de atos que portaram prejuízo a um grupo reduzido de pessoas.

Estamos, no entanto, lidando neste caso com um sofrimento social. Ou seja, toda a sociedade sofreu e ainda sofre por meio do “corpo torturável” desses indivíduos. Ela sabe que a violência estatal ainda paira como uma espada de Dâmocles por sobre nossas cabeças. Ela pode explodir de maneira a mais irracional, como um conteúdo recalcado que retorna lá de onde menos esperamos.

Por outro lado, é claro que tais demandas de “isenção” escondem o pior dos raciocínios, a saber, a defesa de que a violência de um Estado ilegal contra a população equivale à violência de setores da população contra o aparato repressivo do Estado. “Temos de julgar também os terroristas”, é o que dizem.

Aqui talvez seja o caso de se perguntar: Para que serve a verdade? Alguns acreditam que a verdade serve principalmente para reconciliar. Ou seja, sua enunciação forneceria o quadro de um reconhecimento dos danos ocasionados no passado. Tal reconhecimento, por mais simbólico que seja, teria a força de produzir conciliações e versões unificadas da história nacional.

Não creio que isso possa ocorrer. Sempre teremos leituras divergentes e irreconciliáveis do que foi a ditadura. Sempre haverá os que dirão que os militares nos salvaram da transformação do Brasil em uma ditadura comunista.

Por isso, talvez seja o caso de dizer que a enunciação da verdade não serve para conciliar. Ela serve para romper. Ela rompe com o medonho exercício de desresponsabilização que foi colocado em marcha no Brasil. Rompe com a tentativa de colocar no mesmo patamar quem usurpa o poder e cria um Estado de medo e aqueles que se voltam contra tal situação. Desde o Evangelho sabemos isso: a verdade não tem o poder de unir. Ela tem a força de cortar.

É importante dizer isso porque corremos o risco de ver a Comissão da Verdade se transformar em uma macabra validação da famosa “teoria dos dois demônios”. Certamente haverá a tendência em colocar em circulação a necessidade de investigar os “crimes feitos pelos terroristas de esquerda”. Por isso creio ser mais que necessário perder o medo de dizer em alto e bom som: toda ação contra um governo ilegal é uma ação legal. Um Estado ilegal não pode julgar ações contra si por ser ele próprio algo mais próximo de uma associação criminosa. Esta era a situação brasileira.
Pois podemos dizer que dois princípios maiores fundam a experiência de modernização política que caracteriza a tradição da qual fazemos parte.

O primeiro desses princípios afirma que um governo só é legítimo quando se funda sobre a vontade soberana de um povo- -livre.

O segundo princípio afirma o direito à resistência.

Mesmo a tradição política liberal admite, ao menos desde John Locke, o direito que todo cidadão tem de assassinar o tirano, de lutar de todas as formas contra aquele que usurpa o poder e impõe um Estado de terror, de censura, de suspensão das garantias de integridade social. Nessas situações, a democracia reconhece o direito à violência.

Costuma-se dizer que o direito à resistência não pode ser aplicado ao caso brasileiro já que a repressão caiu exclusivamente sobre os ombros de integrantes da luta armada que procuravam criar um governo comunista e totalitário no Brasil. Mas a afirmação é falsa.

A repressão agiu contra toda forma de resistência, não só aquela da luta armada. O deputado Rubem Paiva, assim como vários sindicalistas e estudantes não faziam parte da luta armada e foram brutalmente mortos. Diz-se que estávamos em uma guerra e “efeitos colaterais” são produzidos. Mas, mesmo em situações de guerra, abusos são punidos.

Por outro lado, contrariamente ao que ocorreu na Argentina, os grupos de guerrilha apareceram no Brasil a partir do golpe militar, ou seja, se não houvesse ditadura não haveria grupos de guerrilha, a não ser focos isolados e completamente irrelevantes. É bom lembrar que boa parte daqueles que se engajaram na guerrilha tinha apenas uma vaga ideia do que queria, mas tinha uma ideia muito clara do que não queria. Lembre-se ainda que o direito à resistência não se anula pelo fato de defender outro regime de governo. Não por outra razão, líderes comunistas ainda são vistos como heróis da resistência na Europa.

Por essas razões, a única reconciliação possível ocorrerá quando aplicarmos no Brasil o que foi feito na África do Sul. O que queremos não é a cadeia para generais octogenários. Queremos que os responsáveis pelos crimes da ditadura peçam perdão, em sessão pública, diante dos familiares e torturados. Se o perdão é o gesto que reconcilia e apaga as feridas do passado, há de se lembrar que só pode haver perdão onde há reconhecimento do crime. Que a Comissão da Verdade não sirva para, mais uma vez, tentarem nos extorquir uma falsa reconciliação.

 

Os fantasmas continuam atentos

por Wálter Maierovitch

28.11.2011 08:46

CC


Uma ativista espanhola da área de direitos humanos disse, certa vez e numa manifestação na madrilena Porta do Sol, que fantasmas sempre aparecem quando os órgão do poder e agentes da autoridade pública buscam soluções incompletas ou paliativos para colocar uma pá de cal sobre os mortos e os desaparecidos das ditaduras. Todos lembram, em maio passado, do julgamento pelo -Supremo Tribunal Federal (STF) da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental de registro 153. Uma arguição ajuizada pelo Conselho Federal da OAB e com petição inicial subscrita pelo jurista e professor emérito Fábio Konder Comparato. Por 7 votos contra 2, a maioria dos ministros seguiu o voto de Eros Grau, este com o entendimento de a Lei da Anistia não afrontar a Constituição da República.

O então ministro Grau decidiu ter a anistia alcançado os crimes de lesa-humanidade num momento em que a sociedade desejava esquecer o passado e reconquistar a democracia. Grau ressaltou tratar-se de anistia bilateral e que a Emenda 26, de convocação da Assembleia Nacional, balizou os constituintes ao admitir a anistia ampla, geral e irrestrita. Para rematar, Grau concluiu que a Emenda 26 “constitucionalizou a anistia”. Pena ter faltado a Grau, de triste passagem pelo STF, uma leitura mais atenta da Constituição da República, já que a história deturpou e mostrou desconhecer. Os constituintes, sem engessamento, deixaram escrito não poder a anistia premiar os autores de crimes de lesa-humanidade.

Pouco tempo depois dessa maçada suprema, mais especificamente em dezembro de 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos tornou pública a sua decisão no caso Gomes Lund e sobre violações aos direitos humanos durante a chamada Guerrilha do Araguaia. Essa Corte, é bom recordar, não admite a autoanistia, caso típico da lei brasileira de 1979, concebida em plena ditadura militar e com um Legislativo biônico. No caso Gomes Lund, a Corte condenou o Estado brasileiro pela impunidade conferida a violadores de direitos imanentes ao ser humano.

Para a ativista espanhola mencionada, os fantasmas sempre aparecem de surpresa e para desmontar injustiças em cima de corpos insepultos. O então ministro Nelson Jobim, da pasta da Defesa e talvez em razão do peso de uniformes militares que passou a trajar, esqueceu os regramentos legais e os livros. Jobim soltou a sua ordem do dia e no sentido de a decisão do STF, sobre a legitimidade da Lei da Anistia, ser soberana e prevalecer sobre a da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Por evidente, Jobim não espantou os fantasmas que lembram que a Constituição do Brasil aceita a jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos: “O Brasil propugnará pela formação de um tribunal internacional dos direitos humanos” (art. 7º dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias).
Jobim errou o tiro.

O único caminho para o Brasil não cumprir a decisão da Corte Interamericana seria deixar, por formal denúncia, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, embora a tenha subscrito e com aprovação pelo Congresso. A Convenção tem clareza solar ao estabelecer que “Os Estados-partes na Convenção comprometem-se a cumprir a decisão da Corte em todos os casos em que forem partes”.

Com a desvinculação por meio de denúncia, frise-se, o Brasil poderia ficar fora do alcance da jurisdição da Corte Interamericana e, assim, fazer valer, com relação às graves violações a direitos humanos havidas no período da ditadura militar (144 assassinatos sob tortura e 125 desaparecidos de repartições do Estado), a decisão do STF que foi capitaneada pelo ministro Eros Grau.

Na semana passada, uma cortina de fumaça procurou esconder a condenação do Brasil pela Corte Interamericana. Isso ocorreu por meio de uma concorrida cerimônia de promulgação da lei instituidora da Comissão da Verdade, tudo com choros de familiares de antigos presos políticos e leve ranger de dentes dos chefes militares presentes e assessorados pelo ex-deputado José Genoino, um ex-guerrilheiro do Araguaia, em novos e poucos solidários panos.

Essa Comissão, a ser integrada por sete membros escolhidos pela presidenta Dilma Rousseff a vencer 11.100 reais mensais, terá dois anos para investigar e identificar violadores de direitos humanos, num arco temporal de 1946 a 1988.


Na verdade, a cerimônia mostrou um Brasil pusilânime, que teme desagradar aos militares e é incapaz de impor um projeto a revogar a Lei da Anistia ou reconhecer, para propositura de ações criminais, a força da jurisdição internacional em casos de graves violações a direitos naturais da pessoa humana. Uma jurisdição, com relação às graves violações, hierarquicamente superior à do STF. No mesmo dia da solenidade, ecoou a advertência de Navi Pillay, alta comissária de defesa dos direitos humanos das Nações Unidas. Navi recomendou a revogação da lei de autoanistia por inaceitável nessa quadra evolutiva. Pelo jeito, um fantasma soprou no ouvido da alta comissária.

Militares pedem que Dilma desautorize ministras

22.02.2012



http://www.cartacapital.com.br/sociedade/militares-pedem-que-dilma-desautorize-ministras/


Declarações das ministras Mária do Rosário (Direitos Humanos) e Eleonora Menicucci (Secretaria das Mulheres) sobre a ditadura militar e a Comissão da Verdade criaram um mal-estar entre o governo Dilma e parte dos militares.

Uma nota assinada pelos presidentes do Clube Naval, da Aeronáutica e Militar critica o fato de a presidenta Dilma Rousseff não ter desautorizado as duas ministras.

Em 8 de fevereiro, Maria do Rosário comentou em entrevista ao jornal Correio Brasiliense sobre a possibilidade de processos judiciais contra agentes repressores da ditadura militar, a exemplo do que ocorreu em países vizinhos como a Argentina.

“Mais uma vez esta autoridade da República sobrepunha sua opinião à recente decisão do STF, instado a opinar sobre a validade da Lei da Anistia. E, a Presidente não veio a público para contradizer a subordinada”, diz a nota.

Em sua posse, Eleonora Menicucci fez referência ao tempo em que ela e Dilma foram presas políticas na mesma cela, quando lutavam contra a ditadura militar. A declaração também irritou os militares. Para eles, a militância de Menicucci tinha o intuito de implantar, por meio da força, uma ditadura “nunca tendo pretendido a democracia”.

Por fim, a nota aponta que o PT cometeu uma falácia quando, ao divulgar as resoluções políticas tiradas em seu aniversário de 32 anos, o partido destacou o resgate da memória, junto à sociedade, da luta pela democracia durante a ditadura. “Pode-se afirmar que a assertiva é uma falácia, posto que quando de sua criação o governo já promovera a abertura política, incluindo a possibilidade de fundação de outros partidos políticos, encerrando o bi-partidarismo”.

Os militares se dizem preocupados com a ausência de manifestações da presidenta e cobram dela uma reaproximação com as posturas assumidas durante a posse, de estender a mão aos partidos e grupos de oposição que não apoiaram sua candidatura.

Aprovada no final do ano passado, a Comissão da Verdade não satisfez os militares nem os setores de esquerda e familiares de vítimas do período militar. Para eles, a comissão não tem recursos suficientes para apurar abusos de todo período proposto. Ao mesmo tempo, os clubes militares temem a penalização de agentes repressores e apelidaram a banca de “Comissão da Vingança”.

Chefes do atentado ao Riocentro mataram Baumgarten

http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2012-05-02/chefes-do-atentado-ao-riocentro-mataram-baumgarten.html

Dono da revista “O Cruzeiro” foi morto como queima de arquivo, segundo conta ex-delegado do DOPS Cláudio Guerra

Tales Faria, iG Brasília | - Atualizada às

 Os mesmos comandantes do Riocentro mandaram executar o jornalista Alexandre Von Baumgarten, em 1982, revela o ex-delegado do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) do Espírito Santo Cláudio Guerra, no livro “Memórias de uma guerra suja”.

Cláudio Guerra conta que ele próprio foi encarregado inicialmente do assassinato. O plano era simular uma morte natural, aplicando em Baumgarten uma injeção com a substância letal. A perícia, combinada, apontaria como causa da morte um infarto comum.


Segundo o relato do ex-delegado aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, que acaba de ser publicado pela Editora Topbooks, a ordem de matar Baumgarten, dono da revista Cruzeiro, “partiu do SNI (Serviço Nacional de Informações) de Brasília”.
À época, a Agência Central do SNI, em Brasília, era chefiada pelo general Newton Cruz. E Cláudio Guerra teria sido escalado para o assassinato - chamado de Operação Dragão - pelos seus dois chefes diretos: o coronel de Exército Freddie Perdigão (Serviço Nacional de Informações) e o comandante Antônio Vieira (Cenimar).
O ex-delegado dá os nomes dos comandantes da operação, “os mesmos de sempre”:
Ambos haviam sido, ainda segundo o ex-delegado, os comandantes do atentado do Riocentro, junto com o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (comandante do Departamento de Operações de Informações do 2º Exército – DOI-Codi).

“Ele (Baumgarten) ia morrer porque era um arquivo vivo. Recebia dinheiro para apoiar o governo militar, por meio do trabalho na revista. Mas, por várias razões, os militares perderam a confiança nele e decretaram sua morte. Por mais recursos que ele recebesse, queria sempre mais e mais. A ambição o transformou num chantagista.”



Cláudio Guerra conta que juntou três homens de sua equipe e, um mês antes do desaparecimento de Baumgarten, abordaram-no numa rua do Rio de Janeiro e o imobilizaram.

“Anunciei um assalto, a injeção estava comigo, mas não consegui aplicar. Baumgarten reagiu, gritou que estava sendo assassinado e acabou atraindo a curiosidade das pessoas que passavam. Tivemos que abortar a operação.”

Pouco tempo depois, o técnico da antiga Companhia Telefônica do Rio de Janeiro (Telerj) Heráclito Faffe, que trabalhava em escutas para o SNI, morreu de edema pulmonar após uma estranha tentativa de assalto em Copacabana.

O livro “Dos quartéis à espionagem: caminhos e desvios do poder militar”, de José Argolo e Luiz Alberto Fortunato, relata que Faffe chegou a ser atendido por médicos e contou que seus agressores aplicaram-lhe uma injeção nas nádegas.
 

Troca de comando na operação
Segundo Cláudio Guerra, depois de outra tentativa mal sucedida, o coronel Perdigão informou que a Operação Dragão passaria para ser feita por militares e por um médico.

“Apanharam Baumgarten e a esposa na região serrana do Rio. Ela ficou refém e ele foi para a Polícia Federal, com o delegado Barrouin”.

Cláudio Barrouin Mello foi vice-presidente do Sindicato dos Delegados Federais do Rio de Janeiro e ficou conhecido ao comandar a operação que culminou na morte do banqueiro do bicho Toninho Turco. Morreu em 1998.
 

Conta Cláudio Guerra que os assasinos de Baumgarten levaram a vítima para alto-mar. A função do médico era fazer uma incisão no seu abdomem para liberar gases e evitar que boiasse. Mas o corpo apareceu na praia. E o delegado diz ter ouvido de Perdigão e Vieira que foi por erro do médico.

“Antes que eu me esqueça: o médico que abriu a barriga do Baumgarten chamava-se Amílcar Lobo”, conta o ex-delegado.

Amílcar Lobo, tempos depois, teve seu registro médico cassado por ter participado de sessões de tortura no regime militar. Seu codinome era “Doutor Carneiro”.

Jogo do bicho absorveu agentes da ditadura militar

http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2012-05-03/jogo-do-bicho-absorveu-agentes-da-ditadura-militar.html

Prática revelada no esquema de Carlinhos Cachoeira, uso de arapongas por esquema de contravenção nasceu com decadência do SNI

Tales Faria e Adriano Ceolin, iG Brasília |


Foto: AE Militares bancaram ingresso de agentes da ditadura no jogo do bicho, prática adotada por Cachoeira (foto)
 
 
A Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, mostrou neste ano que o bicheiro Carlinhos Cachoeira contratou ex-agentes da ditadura militar.

Segundo o livro “Memórias de uma Guerra Suja”, o uso de policiais em esquema de contravenção teve início no processo de abertura política do País entre o fim dos anos 70 e começo dos 80. Uma cópia da publicação foi obtida com exclusividade pelo iG.

Em depoimento aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, o delegado de polícia Cláudio Guerra afirma que, com o encerramento das atividades dos grupos de combate à esquerda, muitos agentes ficaram sem função no Estado.

“Quando o SNI já estava na decadência, me arrumaram suporte financeiro, passei a ser ajudado pelo jogo do bicho”, diz Guerra. “(...) não me deixaram na mão, e a maneira encontrada para me bancar foi viabilizar a minha entrada no jogo”.

De acordo com Guerra, foi o coronel Freddie Perdigão que “o levou para o esquema”. Ainda segundo o livro, o delegado havia sido levado a agir em nome da ditadura pelas mãos de Perdigão. “Me recrutou, cooptou, comentou e treinou”, diz Guerra.
O ex-delegado dá os nomes dos comandantes da operação, “os mesmos de sempre”:
Ainda na publicação, o delegado que foi apresentado ao bicheiro carioca Castor de Andrade (1926-1997). Ele é reconhecido como um dos maiores e mais poderosos empresários do jogo do bicho de todos os tempos.

“A relação entre Castor e as Forças Armadas era tão próxima que ele tinha até uma credencial do Cenimar (Centro de Informações da Marinha)”, afirma. “Ele gostava de usá-la para dizer que era agente oficial da reserva”, completa.
 

‘Irmandade ainda existe’
Guerra relata que atuou com o chefe de segurança de todos os bicheiros do Rio de Janeiro e que, com a experiência adquirida, ele próprio tornou-se empresário. “Comprei uma parte das bancas do Zé Carlos Gratz (ex-bicheiro e ex-deputado estadual)”, diz.

O delegado afirma que, apesar da abertura política, ele continuou ajudando clandestinamente as polícias de São Paulo e do Rio de Janeiro. “Acabou a revolução, mas a irmandade continuou. A irmandade ainda existe, não morreu, os caras ainda servem uns aos outros”, finaliza.

A mais recente prova disso é a revelação da Polícia Militar de que o sargento aposentado da Aeronáutica, Idalberto Araújo, o Dadá, e o sargento da Polícia Militar do Distrito Federal, Jairo Martins, atuaram como arapongas no esquema de Cachoeira.
 

Ditadura tentou matar Brizola e culpar Igreja Católica

http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2012-05-03/ditadura-tentou-matar-brizola-e-culpar-igreja-catolica.html

Assassinato não aconteceu, mas Cláudio Antônio Guerra revela que se disfarçou de padre durante ação contra ex-líder de esquerda

Tales Faria e Wilson Lima, iG Brasília | - Atualizada às
 Foto: AE Brizola entre Franco Montoro e Ruth Escobar cantam o Hino Nacional no Comício Pró-Diretas, em 1984
  O ex-delegado do DOPS (Departamento de Ordem Político Social) do Espírito Santo, Cláudio Antônio Guerra, revela no livro “Memórias de uma Guerra Suja” que se disfarçou de padre para tentar assassinar Leonel Brizola, fundador do PDT e um dos líderes da resistência contra a ditadura militar. O disfarce era uma estratégia para responsabilizar a Igreja Católica pelo atentado.


Segundo Guerra, a operação foi comandada pelo coronel de Exército Freddie Perdigão (Serviço Nacional de Informações - SNI) e pelo comandante Antônio Vieira (Centro de Informações da Marinha - Cenimar). “Os militares também andavam muito aborrecidos com a Igreja Católica, que estava se alinhando à esquerda, pela abertura política”, afirma Guerra. Perdigão e Vieira também estavam à frente do atentado ao Riocentro.

Guerra levava também uma pasta com um revólver calibre 45. A arma era a preferida dos cubanos. A intenção também era ligar o governo de Fidel Castro ao assassinato. “Eu me lembro do boato de que Fidel Castro estava aborrecido por Brizola ter ficado com o dinheiro enviado por Cuba para financiar a guerrilha do Caparaó (o primeiro movimento de luta armada contra a ditadura militar). Os militares estimulavam esses boatos nos quartéis e entre nós”, revela Guerra. “Com o retorno de Brizola, os comentários sobre o dinheiro de Fidel apareciam aqui e ali”.

“O objetivo (do atentado) era implicar a Igreja Católica – resolveríamos dois problemas de uma vez só – e envolver os cubanos, insatisfeitos com a suspeita de desvio de verba para a guerrilha do Caparaó; daí a arma calibre 45”, aponta.

“O objetivo, como sempre, era tumultuar o processo de redemocratização do Brasil”, reafirma o ex-delegado em depoimento ao jornalistas Rogério Medeiros e Marcelo Netto no livro que acaba de ser publicado pela editora Topbooks.

A tentativa de assassinato ocorreu quando Brizola morava em Copacabana, no Rio de Janeiro. A data é incerta. Guerra conta que foi entre “a chegada dele do exílio, em 1979 e antes da demissão do chefe da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva” em 1981. O ex-delegado afirma no livro que se hospedou no Hotel Apa, na rua República do Peru. O hotel existe até hoje. Ele se registrou com identidade e CPF falsos, concedidos pela Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro na época. “Quando precisava incorporar um personagem para realizar uma missão, eles forneciam tudo: CPF, identidade, tudo”, relata.

 O ex-delegado revela no livro “Memórias de uma Guerra Suja” foi até a porta do prédio onde Brizola montado na garupa de uma moto conduzida pelo tenente Molina, um militar do Cenimar. Normalmente o líder de esquerda saía de casa “um pouco antes do meio-dia”, pelas informações do SNI repassadas ao ex-delegado do DOPS. Naquele dia, Brizola não desceu e o atentado foi abortado. “Havia o interesse da comunidade de informações em eliminar Brizola, só que depois houve um retrocesso, uma mudança”, afirma Guerra.

Brizola sofreu uma tentativa de assassinato no Hotel Everest, no Rio de Janeiro, em 18 de janeiro de 1980, quatro meses depois de chegar do exílio. Uma bomba foi deixada na porta do apartamento do líder de esquerda mas desativada em seguida.

*Colaborou Adriano Ceolin, iG Brasília
 

Ex-delegado do DOPS Cláudio Guerra confessa atentado contra jornal ‘O Estado de S.Paulo’

sexta-feira, 4 de maio de 2012

A primeira confissão do atentado ao Riocentro

Ex-delegado do DOPS conta ter participado atentado, dá nomes dos chefes militares da operação e conta o que deu errado

Tales Faria, iG Brasília | - Atualizada às


“Participei do atentado ao Riocentro (durante as comemorações do Dia do Trabalhador, em 1981) e fiz parte das várias equipes que tentaram provocar aquela que seria a maior tragédia, o grande golpe contra o projeto de abertura democrática”, revela o ex-delegado Cláudio Guerra, do DOPS (Departamento de Operações Políticas e Socias), no livro “Memórias de uma guerra suja”.

O depoimento aos jornalistas Rogério Medeiros e Marcelo Netto, que acaba de ser publicado pela editora Topbooks, é a primeira confissão de participação no atentado feita por um integrante das forças de resistência á redemocratização do país no final da década de 70.

Foto: Agência O Globo No Riocentro, bomba explodiu antes da hora do atentado previsto e matou agente de informações do Exército
 
Cláudio Guerra conta que a bomba explodiu por engano no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário por um erro do capitão Wilson Luís Chaves Machado, que dirigia o Puma onde os dois estavam:

“Aquela bomba era uma das três que deveriam explodir no show. O capitão Wilson estacionou o veículo embaixo de um fio de alta tensão e a carga elétrica desse fio, a energia que passava em cima do Puma, fechou o circuito da bomba, provocando a explosão. O erro foi do capitão. (...) Eu era especialista em explosivos.”

O ex-delegado dá os nomes dos comandantes da operação, “os mesmos de sempre”:
O coronel de Exército Freddie Perdigão (Serviço Nacional de Informações); o comandante Antônio Vieira (Cenimar); e o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (comandante do Departamento de Operações de Informações do 2º Exército – DOI-Codi).

Quanto à sua equipe, a missão seria prender esquerdistas que seriam responsabilizados pelo atentado: “Fui para lá com uma lista de nomes.”

Mas deu tudo errado. Com a explosão da bomba no Puma, os militares policiais civis e os policiais civis que levavam outras duas bombas abortaram a operação.

“O destino daquela bomba era o palco. Tratava-se de um artefato de grande poder destruidor. O efeito da carga explosiva no ambiente festivo, onde deveriam se apresentar uns oitenta artistas famosos, seria devastador. A expansão da explosão e a onda de pânico dentro do Riocentro gerariam consequências desastrosas. Era evidente que muitas pessoas morreriam pisoteadas.”

Segundo conta Cláudio Guerra, a coordenação feita pelo pessoal de inteligência havia mandado suspender todos os serviços de apoio do Riocentro, incluindo o policiamento e a assistência médica, para que não houvesse socorro imediato às vítimas. Até as portas de saída foram trancadas e placas de trânsito com siglas da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) haviam sido pichadas para dar a entender que se tratava de uma ação da esquerda.


Ex-delegado do DOPS está disposto a confirmar à Comissão da Verdade assassinatos, atentados a bomba e incinerações de cadáveres durante a ditadura

quinta-feira, 3 de maio de 2012

http://colunistas.ig.com.br/poderonline/2012/05/03/ex-delegado-do-dops-esta-disposto-a-confirmar-a-comissao-da-verdade-assassinatos-atentados-a-bomba-e-incineracoes-de-cadaveres-durante-a-ditadura/ 

O ex-delegado do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) do Espírito Santo Cláudio Guerra resolveu se esconder, a fim de evitar retaliações por suas revelações no livro “Memórias de uma guerra suja”, que, conforme antecipou ontem o iG, acaba de ser publicado pela editora Topbooks.

Em depoimento aos jornalistas Rogério Medeiros e Marcelo Netto, o ex-delegado contou detalhes de sua participação em vários crimes durante a ditadura militar. Incluindo o atentado contra o Riocentro, o assassinato de Alexandre Von Baugarten e incinerações e mortes de adversários do regime militar, bem como o nome de seus comparsas e dos mandantes dos crimes.

Em entrevista ao Poder Online, um dos autores do livro, Rogério Medeiros, diz que Cláudio Guerra está pronto para reaparecer, assim que for convocado a prestrar depoimento à Comissão da Verdade.

Aqui, Rogério fala como convenceu o ex-delegado a confessar seus crimes e da checagem dos dados publicados:

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