Prática revelada no esquema de Carlinhos Cachoeira, uso de arapongas por esquema de contravenção nasceu com decadência do SNI
Tales Faria e Adriano Ceolin, iG Brasília |
Foto: AE
Militares bancaram ingresso de agentes da ditadura no jogo do bicho, prática adotada por Cachoeira (foto)A Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, mostrou neste ano que o
bicheiro Carlinhos Cachoeira contratou ex-agentes da ditadura militar.
Segundo o livro “Memórias de uma Guerra Suja”, o uso de policiais em
esquema de contravenção teve início no processo de abertura política do
País entre o fim dos anos 70 e começo dos 80. Uma cópia da publicação
foi obtida com exclusividade pelo iG.
Em depoimento aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, o
delegado de polícia Cláudio Guerra afirma que, com o encerramento das
atividades dos grupos de combate à esquerda, muitos agentes ficaram sem
função no Estado.
“Quando o SNI já estava na decadência, me arrumaram suporte
financeiro, passei a ser ajudado pelo jogo do bicho”, diz Guerra. “(...)
não me deixaram na mão, e a maneira encontrada para me bancar foi
viabilizar a minha entrada no jogo”.
De acordo com Guerra, foi o coronel Freddie Perdigão que “o levou
para o esquema”. Ainda segundo o livro, o delegado havia sido levado a
agir em nome da ditadura pelas mãos de Perdigão. “Me recrutou, cooptou,
comentou e treinou”, diz Guerra.
O ex-delegado dá os nomes dos comandantes da operação, “os mesmos de sempre”:
Ainda na publicação, o delegado que foi apresentado ao bicheiro
carioca Castor de Andrade (1926-1997). Ele é reconhecido como um dos
maiores e mais poderosos empresários do jogo do bicho de todos os
tempos.
“A relação entre Castor e as Forças Armadas era tão próxima que ele
tinha até uma credencial do Cenimar (Centro de Informações da Marinha)”,
afirma. “Ele gostava de usá-la para dizer que era agente oficial da
reserva”, completa.
‘Irmandade ainda existe’
Guerra relata que atuou com o chefe de segurança de todos os
bicheiros do Rio de Janeiro e que, com a experiência adquirida, ele
próprio tornou-se empresário. “Comprei uma parte das bancas do Zé Carlos
Gratz (ex-bicheiro e ex-deputado estadual)”, diz.
O delegado afirma que, apesar da abertura política, ele continuou
ajudando clandestinamente as polícias de São Paulo e do Rio de Janeiro.
“Acabou a revolução, mas a irmandade continuou. A irmandade ainda
existe, não morreu, os caras ainda servem uns aos outros”, finaliza.
A mais recente prova disso é a revelação da Polícia Militar de que o
sargento aposentado da Aeronáutica, Idalberto Araújo, o Dadá, e o
sargento da Polícia Militar do Distrito Federal, Jairo Martins, atuaram
como arapongas no esquema de Cachoeira.
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