Ex-sargento do DOI contesta Guerra e diz que ações eram restritas a militares
Para ex-analista de inteligência Marival Chaves, subordinado de
Ustra que delatou execuções e esquartejamentos de presos, declarações de
ex-delegado são falsas e desconexas
Raphael Gomide, enviado do iG a Vitória (ES) |
- Atualizada às
Para o ex-sargento da Inteligência do Exército Marival Chaves, que
integrou o DOI do II Exército (São Paulo) nos anos 1970, as afirmações
do ex-delegado Cláudio Antônio Guerra de que comandou e executou assassinatos, junto com militares, durante a ditadura “não são condizentes com a realidade”.
Segundo ele afirmou ao iG nesta quinta-feira (3), as operações de tortura e execução de presos políticos eram “restritas ao pessoal das Forças Armadas”.
“Não tinha policial militar, federal ou civil, de jeito nenhum
participavam. Era apenas um grupo pequeno de pessoas que se reuniam de
madrugada para fazer o que tinham de fazer e no dia seguinte se
dispersavam”, disse.
Marival – que deixou o Exército em 1985, mora no Espírito Santo e se
dedica a terapias naturais – notabilizou-se por uma entrevista para a
revista Veja, em 1992, em que revelou que presos políticos eram
torturados, mortos e esquartejados na Casa de Petrópolis, mantida pelo
Centro de Informações do Exército, na serra do Rio.
O ex-sargento disse que nunca ouviu falar no ex-policial e que, se
ele tivesse atuado nos episódios citados, “certamente” o conheceria –
além de hoje morarem no mesmo Estado.
“Não conheço nem nunca ouvi falar nesse delegado, com todo o
respeito. As coisas que ele diz não são condizentes com a realidade. Ele
deve estar surtando, ficando louco. Se ele tivesse participado de algo
do que diz, eu certamente o conheceria, porque era do DOI de São Paulo,
precursor da Operação Bandeirantes”, disse.
A declaração foi semelhante às do coronel Juarez de Deus Gomes da
Silva e de Joseita Brilhante Ustra, mulher do coronel Carlos Alberto
Brilhante Ustra, comandante do DOI de setembro de 1970 a janeiro de
1974.
Espírito Santo não tinha relevância no contexto da repressão, diz ex-sargento
Foto: Fábio Mota/Agência Estado
Manifestantes protestaram contra reunião do Clube Militar para comemorar o golpe de 1964, no Rio
De acordo com Marival Chaves, outro fator que descredencia o
ex-policial é o fato de que, durante a ditadura, o Espírito Santo – onde
Guerra era delegado – não tinha relevância para a ditadura, porque não
abrigava organizações da luta armada vultosas.
“O Espírito Santo não tinha nenhuma importância no contexto da
repressão política. O foco estava no eixo Rio-São Paulo e Minas Gerais”,
afirmou.
“Ele deve estar tendo um surto psicótico, o que diz são coisas
desconexas, quem conhece o assunto dá risada. Não dê crédito a esse
delegado, porque o que diz não condiz com a verdade. Vc vai escrever
informações erradas", disse.
O ex-militar declarou que tem evitado fazer declarações públicas
sobre a ditadura e se dedica atualmente à terapia naturista, mas disse
que falará quando for chamado a depor na Comissão da Verdade, a ser
montada pelo governo federal.
“Só vou atender à Comissão da Verdade. Já veio comissão de Brasília
com três deputados e não os recebi. Todo mundo me liga, mas já falei
muito e não adiantou nada”, disse.
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