segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ex-sargento do DOI contesta Guerra e diz que ações eram restritas a militares

Para ex-analista de inteligência Marival Chaves, subordinado de Ustra que delatou execuções e esquartejamentos de presos, declarações de ex-delegado são falsas e desconexas

Raphael Gomide, enviado do iG a Vitória (ES) | - Atualizada às


Para o ex-sargento da Inteligência do Exército Marival Chaves, que integrou o DOI do II Exército (São Paulo) nos anos 1970, as afirmações do ex-delegado Cláudio Antônio Guerra de que comandou e executou assassinatos, junto com militares, durante a ditadura “não são condizentes com a realidade”.


Segundo ele afirmou ao iG nesta quinta-feira (3), as operações de tortura e execução de presos políticos eram “restritas ao pessoal das Forças Armadas”. 

“Não tinha policial militar, federal ou civil, de jeito nenhum participavam. Era apenas um grupo pequeno de pessoas que se reuniam de madrugada para fazer o que tinham de fazer e no dia seguinte se dispersavam”, disse.

Marival – que deixou o Exército em 1985, mora no Espírito Santo e se dedica a terapias naturais – notabilizou-se por uma entrevista para a revista Veja, em 1992, em que revelou que presos políticos eram torturados, mortos e esquartejados na Casa de Petrópolis, mantida pelo Centro de Informações do Exército, na serra do Rio.

O ex-sargento disse que nunca ouviu falar no ex-policial e que, se ele tivesse atuado nos episódios citados, “certamente” o conheceria – além de hoje morarem no mesmo Estado.

“Não conheço nem nunca ouvi falar nesse delegado, com todo o respeito. As coisas que ele diz não são condizentes com a realidade. Ele deve estar surtando, ficando louco. Se ele tivesse participado de algo do que diz, eu certamente o conheceria, porque era do DOI de São Paulo, precursor da Operação Bandeirantes”, disse.

A declaração foi semelhante às do coronel Juarez de Deus Gomes da Silva e de Joseita Brilhante Ustra, mulher do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI de setembro de 1970 a janeiro de 1974.




Espírito Santo não tinha relevância no contexto da repressão, diz ex-sargento

Foto: Fábio Mota/Agência Estado Manifestantes protestaram contra reunião do Clube Militar para comemorar o golpe de 1964, no Rio
De acordo com Marival Chaves, outro fator que descredencia o ex-policial é o fato de que, durante a ditadura, o Espírito Santo – onde Guerra era delegado – não tinha relevância para a ditadura, porque não abrigava organizações da luta armada vultosas.

“O Espírito Santo não tinha nenhuma importância no contexto da repressão política. O foco estava no eixo Rio-São Paulo e Minas Gerais”, afirmou.

“Ele deve estar tendo um surto psicótico, o que diz são coisas desconexas, quem conhece o assunto dá risada. Não dê crédito a esse delegado, porque o que diz não condiz com a verdade. Vc vai escrever informações erradas", disse.

O ex-militar declarou que tem evitado fazer declarações públicas sobre a ditadura e se dedica atualmente à terapia naturista, mas disse que falará quando for chamado a depor na Comissão da Verdade, a ser montada pelo governo federal.

“Só vou atender à Comissão da Verdade. Já veio comissão de Brasília com três deputados e não os recebi. Todo mundo me liga, mas já falei muito e não adiantou nada”, disse.

 

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