quarta-feira, 12 de junho de 2013

O assassinato de Manuel Fiel Filho - 17 de janeiro de 1976


Eram 9 horas da manhã de uma sexta-feira, quando dois indivíduos, numa caminhonete bege, pararam em frente à Metal Arte Industrial Reunidas, na zona leste da capital paulista e, identificando-se como agentes do DEOPS dirigiram-se ao encarregado do Departamento de Pessoal da empresa, em busca de Manuel Fiel Filho, empregado há 19 anos - encarregado do setor de prensas hidráulicas, informando urgência em contactá-lo. Cinco minutos depois, de uniforme em brim azul, estava diante deles o funcionário, que havia chegado às 7h ao trabalho.
Os agentes pediram que Manuel os acompanhasse para prestar um esclarecimento. Segundo o chefe do Departamento de Pessoal, Manuel estava tranquilo e antes de acompanhar os agentes fez uma única pergunta: "Será preciso eu trocar de roupa ou posso ir assim mesmo"? E ouviu a seguinte resposta de um deles: "Pode ir assim mesmo, que logo você estará de volta".

De lá, os três seguiram para a casa de Manuel, também na zona norte de São Paulo, onde estavam sua esposa e filhas. Sem nada explicá-las, apenas recomedaram: "Ninguém deve falar nada com ele". E começaram a revistar o domicílio. Ao final das buscas, permitiram que Manuel ficasse a sós com a família por alguns instantes, mas ao ser questionado pela esposa, apenas a abraçou e disse: "Não se preocupe, nega, que eu não vou demorar". Em seguida, Manuel e os policiais entraram no carro e deixaram o local.

Manuel Fiel Filho não foi mais visto.


Apesar da preocupação, todos resolveram aguardar por notícias. Até que, as 22h de sábado, 17 de janeiro de 1976, um táxi apareceu à porta da casa de Manuel, e sem descer, o passageiro informou à sua esposa secamente: "Seu marido se suicidou". E estendendo os braços para fora do carro, entregou-lhe um saco com os pertences que Manuel usava no dia anterior: Blusão, calça, sapatos, cinto e uma nota de Cr$ 10. Também havia um envelope timbrado do II Exército, com os documentos do operário.

A família seguiu para o IML, à procura do corpo de Manuel, mas os funcionários negaram que ele tivesse dado entrada ali. Contudo, diante da insitência de seus parentes, os funcionários acabaram por admitir que o corpo do operário havia chegado poucos minutos antes, vindo do Hospital das Clínicas, onde havia dado entrada após passar mal no trabalho e acabara de morrer. Porém, havia ordens no IML para que ninguém visse o corpo de Manuel e que a família não fosse comunicada do enterro.

Por fim, diante da pressão dos irmãos de Manuel, o corpo de Manuel acabou sendo velado, sob escolta policial, na capela da Igreja Nossa Senhora de Lourdes, no bairro Belém, com a condição de que a cerimônia fosse rápida e discreta. Alguns conhecidos puderam ver um corte profundo, longitudinal da altura do queixo ao pescoço, para o qual receberam a explicação de tratar-se de uma autopsia.

Em poucos minutos, encerrou-se o sepultamento. E para todos que se retiravam, um policial à paisana recomendava que evitassem comentar o acontecimento, que não deveria ultrapassar o âmbito familiar. A viúva e as duas filhas de Manuel não voltaram para casa e deixaram São Paulo no mesmo dia.


A vida e morte de Manuel é a base do documentário Perdão Mister Fiel - O Operario que Derrubou a Ditadura no Brasil que mostra a atuação dos Estados Unidos na caça aos comunistas e nas ditaduras militares na América do Sul.

fonte jblog

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