20 de março de 2013
unisinos
A Comissão da Verdade de São Paulo está convencida
de que o envolvimento de agentes diplomáticos dos Estados Unidos com a
ditadura militar (1964-1985) foi mais direto do que se imagina. Por
causa disso, seus integrantes vão enviar à Comissão Nacional da Verdade
uma solicitação para que analise mais detidamente as denúncias sobre a
presença de americanos nas sessões de interrogatório de presos
políticos.
A informação é publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 20-03-2013.
A decisão foi tomada ontem após depoimento do ex-deputado federal Ricardo Zarattini
(PT-SP) durante uma audiência pública da comissão. Ele recordou que, em
1969, quando esteve preso no Recife, na sede do Departamento de Ordem
Política e Social (Dops), foi interrogado na presença de dois
funcionários do consulado americano. Um deles era Richard Huntington Melton, que mais tarde se tornou embaixador dos EUA no Brasil.
Segundo Zarattini,
o interrogatório ocorreu após várias sessões de tortura. "Os dois não
me torturaram", esclareceu. "Um deles me perguntou: 'Por que você é
contra os Estados Unidos?' Eu respondi que não era contra os Estados
Unidos, mas contra o imperialismo".
Zarattini militava
no Partido Comunista Revolucionário e tentava organizar um movimento de
guerrilha rural na zona canavieira pernambucana. Depois do
interrogatório, disse ontem, não viu mais os americanos.
Só foi saber que um deles era Melton em
1989, quando foi nomeado embaixador e os jornais publicaram fotos dele.
O caso provocou polêmica na época e a aceitação da nomeação, o chamado
agreement, demorou mais que o usual. Segundo informações obtidas por Zarattini, o Itamaraty teria consultado o Ministério da Justiça, que afirmou não haver indicação do envolvimento de Melton com o Dops.
A Comissão Estadual vai oficiar a Comissão Nacional e a Comissão Helder Câmara, de Pernambuco, para que seja investigado de maneira mais detalhada o envolvimento de Melton com a repressão. "A participação do agente diplomático no interrogatório é gravíssima", disse ontem Amélia Telles, assessora da comissão. "E esse caso não é único."
Zarattini disse que decidiu rever o caso de Melton após
a leitura de reportagem do Estado, publicada em fevereiro, revelando
que um agente do consulado americano em São Paulo era frequentador
assíduo do Dops paulista.
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