Parentes de militantes do PC do B enfrentaram a ditadura civil-militar para encampar a primeira expedição em busca da verdade sobre o Araguaia
Aline Salgado
12/3/2013"Fomos perseguidos o tempo todo. A tal ponto do bispo de Belém, Dom Alano Pena, intervir, dizendo que, se um fio de cabelo nosso caísse, eles, os militares, seriam responsabilizados". Aos 68 anos, Diva Santana, irmã de Dinaelza Coqueiro Santana e cunhada de Vandick Reidner Coqueiro, ambos mortos na guerrilha, relembra como começou a luta por respostas ao desaparecimento dos militantes do Araguaia.
Com panfletos em mãos, os integrantes da caravana dos familiares de
desaparecidos do Araguaia percorreram os municípios de Xambioá (TO) e
Marabá (PA) atrás de seus filhos. (Fotos: Arquivo Pessoal)
"Depois da Anistia de 79, que não contemplou os mortos e desaparecidos políticos, os que voltavam do exílio não davam conta de informar onde estavam e se estavam vivos os militantes do Araguaia. Só se sabia pelo partido, por meio do relatório de Arroyo, quem havia morrido em emboscada nos anos de 74 e 75. Mas, depois disso, não tínhamos informações. Até que, no Segundo Congresso de Anistia, em Salvador, decidimos organizar uma caravana até a região. Fizemos um trabalho de mobilização nacional e internacional, em que, até o papa, soube que iríamos para lá", conta Diva Santana, que é conselheira da Comissão sobre e Mortos de Desaparecidos Políticos.
Com panfletos em mãos esclarecendo que eram apenas pais e mães em buscas de seus filhos, o grupo, de pouco mais de 20 pessoas, percorreu os municípios de Xambioá (Tocantins) e Marabá (Pará). Lá, encontraram uma população atormentada, vivendo sob a sombra do medo e do silêncio, mas que, ainda assim, deu algumas informações aos parentes das vítimas.
"Chorando a morte do irmão, uma mulher indicou uma sepultura. Lá foram encontradas as ossadas de um homem jovem e outro velho. Logo depois, um outro morador indicou o local onde havia uma ossada enrolada num paraquedas. Depois, foram encontradas botas femininas e um corpo com um tiro na testa", relata Victória Grabois, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais. Ela conta que, até hoje, tenta enterrar o pai, Maurício Grabois (dirigente do PC do B à época), o irmão, André, e o marido, Gilberto Olímpio Maria.
Denuncia à nação
Já Diva Santana lembra dos riscos que o grupo de familiares dos desaparecidos sofreu na região. "O bispo de Marabá à época, Dom Alano Pena, chegou a receber uma carta de Curió (coronel Sebastião Curió Rodrigues de Moura, acusado por vários guerrilheiros como torturador durante a ditadura civil-militar) dizendo que quem se aproximasse de nós ia ser castigado. Depois da expedição, fizemos um documento chamado de 'Denúncia à Nação' e entregamos ao então deputado federal, Ulisses Guimarães", conta.
Durante as buscas pela região do Araguaia, familiares receberam ameaças do Major Curió
Mais de 15 anos depois da primeira expedição do Araguaia é que foi
iniciada a exumação das ossadas encontradas na região. Foi assim que em
1996 o corpo de Maria Lúcia Petit foi identificado. O reconhecimento,
através da análise da arcada dentária, foi feito pela equipe do legista
Badan Palhares, na Unicamp. Maria Lúcia Petit foi a primeira vítima da
guerrilha do Araguaia a ser enterrada pela família.
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