quarta-feira, 20 de março de 2013

À procura dos desaparecidos

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Parentes de militantes do PC do B enfrentaram a ditadura civil-militar para encampar a primeira expedição em busca da verdade sobre o Araguaia

Aline Salgado
12/3/2013

"Fomos perseguidos o tempo todo. A tal ponto do bispo de Belém, Dom Alano Pena, intervir, dizendo que, se um fio de cabelo nosso caísse, eles, os militares, seriam responsabilizados". Aos 68 anos, Diva Santana, irmã de Dinaelza Coqueiro Santana e cunhada de Vandick Reidner Coqueiro, ambos mortos na guerrilha, relembra como começou a luta por respostas ao desaparecimento dos militantes do Araguaia.
Com panfletos em mãos, os integrantes da caravana dos familiares de desaparecidos do Araguaia percorreram os municípios de Xambioá (TO) e Marabá (PA) atrás de seus filhos. (Fotos: Arquivo Pessoal) 

Mesmo perseguidos, pais, irmãos e esposas se uniram e juntos formaram uma caravana que, nos anos 80, foi até o então acampamento dos militantes do PC do B, às margens do rio Araguaia, tentar encontrar pistas que pudessem levar ao paradeiro de seus familiares.

"Depois da Anistia de 79, que não contemplou os mortos e desaparecidos políticos, os que voltavam do exílio não davam conta de informar onde estavam e se estavam vivos os militantes do Araguaia. Só se sabia pelo partido, por meio do relatório de Arroyo, quem havia morrido em emboscada nos anos de 74 e 75. Mas, depois disso, não tínhamos informações. Até que, no Segundo Congresso de Anistia, em Salvador, decidimos organizar uma caravana até a região. Fizemos um trabalho de mobilização nacional e internacional, em que, até o papa, soube que iríamos para lá", conta Diva Santana, que é conselheira da Comissão sobre e Mortos de Desaparecidos Políticos.

Com panfletos em mãos esclarecendo que eram apenas pais e mães em buscas de seus filhos, o grupo, de pouco mais de 20 pessoas, percorreu os municípios de  Xambioá (Tocantins) e Marabá (Pará). Lá, encontraram uma população atormentada, vivendo sob a sombra do medo e do silêncio, mas que, ainda assim, deu algumas informações aos parentes das vítimas.

"Chorando a morte do irmão, uma mulher indicou uma sepultura. Lá foram encontradas as ossadas de um homem jovem e outro velho. Logo depois, um outro morador indicou o local onde havia uma ossada enrolada num paraquedas. Depois, foram encontradas botas femininas e um corpo com um tiro na testa", relata Victória Grabois, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais. Ela conta que, até hoje, tenta enterrar o pai,  Maurício Grabois (dirigente do PC do B à época), o irmão, André, e o marido, Gilberto Olímpio Maria.

 
Denuncia à nação
Já Diva Santana lembra dos  riscos que o grupo de familiares dos desaparecidos sofreu na região. "O bispo de Marabá à época, Dom Alano Pena, chegou a receber uma carta de Curió (coronel Sebastião Curió Rodrigues de Moura, acusado por vários guerrilheiros como torturador durante a ditadura civil-militar) dizendo que quem se aproximasse de nós ia ser castigado. Depois da expedição, fizemos um documento chamado de 'Denúncia à Nação' e entregamos ao então deputado federal, Ulisses Guimarães", conta.

Durante as buscas pela região do Araguaia, familiares receberam ameaças do Major Curió


Mais de 15 anos depois da primeira expedição do Araguaia é que foi iniciada a exumação das ossadas encontradas na região. Foi assim que em 1996 o corpo de Maria Lúcia Petit foi identificado. O reconhecimento, através da análise da arcada dentária, foi feito pela equipe do legista Badan Palhares, na Unicamp. Maria Lúcia Petit foi a primeira vítima da guerrilha do Araguaia a ser enterrada pela família.

Só em 2009, depois da sentença da 1º Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal, acatando a ação dos familiares das vítimas do Araguaia, é que o Estado tomou à frente nos trabalhos para encontrar a verdade sobre o Araguaia. Na época, o então ministro da Defesa, Nelson Jobim, criou o Grupo de Trabalho Tocantins e, por meio do GTT, começaram as expedições oficiais na região à procura das ossadas dos mortos e desaparecidos do Araguaia. Em 2011, o grupo mudou de nome e formato: passou a se chamar GTA (Grupo de Trabalho do Araguaia) e recebeu representantes do Ministério da Justiça, Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, além das polícias Federal e Civil e universidades.
 

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