Sexta, 23 de novembro de 2012
O coordenador da Comissão da Verdade, Claudio Fonteles,
divulgou ontem textos que acusam 11 agentes do Estado, militares e
civis, pela morte sob tortura de cinco militantes de esquerda durante a
ditadura militar (1964-1985).
A reportagem é de Rubens Valente e Matheus Leitão e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 23-11-2012.
Com base numa análise de três peritos da Polícia Civil de Brasília
que colaboram com a comissão, ele também afirmou que o guerrilheiro Carlos Marighella (1911-1969) foi morto sem esboçar reação ou tentar pegar sua arma, ao contrário da versão oficial.
Ele atribuiu a responsabilidade pela morte ao general Milton Tavares (1917-1981), ex-chefe do CIE (Centro de Informações do Exército): "De tudo, resta claro que Marighella foi eliminado por agentes públicos do Estado, sob a supervisão do general Milton".
Fonteles divulgou
ontem, no site da comissão, 11 textos sobre episódios diversos da
ditadura. É a primeira vez que a comissão torna públicos textos
produzidos por algum de seus integrantes. Para Fonteles, a intenção é
"abrir amplo espaço de diálogo, visando enriquecer essa pesquisa inicial
com sugestões e críticas".
Os principais documentos citados por
Fonteles já foram objeto de reportagens jornalísticas, estudos
acadêmicos e livros. Com seus textos, ele antecipa conclusões que a
comissão poderá vir a adotar.
Ele afirmou que o metalúrgico Manoel Fiel Filho (1927-1976), o militante da ALN (Ação Libertadora Nacional) Joaquim Câmara Ferreira (1913-1970), o padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto (1940-1969), o engenheiro Raul Amaro Nin Ferreira (1944-1971) e o sargento da Aeronáutica João Lucas Alves (1935-1969) morreram sob tortura por agentes do Estado.
No caso de Câmara Ferreira, cita o envolvimento do delegado Sérgio Paranhos Fleury, do extinto Dops (Departamento de Ordem Política e Social) de São Paulo.
Fonteles disse que agentes e médicos legistas encobriram a morte de Aldo de Sá Brito Souza Neto (1951-1971), da ALN. Documento citado por Fonteles diz que quando a família foi reclamar o corpo, militares afirmaram que Aldo estava vivo, e mostraram o corpo de outra pessoa.
Fonteles disse ainda que houve obstrução do Ministério da Justiça na apuração da morte do padre Silva Neto.
ARMAMENTOS
Em outro texto, Fonteles relacionou a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) à produção de armas para o movimento de militares que derrubou o presidente João Goulart, em 1964. Fonteles citou relatório confidencial produzido pelo SNI (Serviço Nacional de Informações), hoje sob guarda do Arquivo Nacional, que descreve a criação do GPMI (Grupo Permanente de Mobilização Industrial) no dia 31 de março de 64, data do golpe militar.
Tal
órgão, segundo o documento, teve a função de "fornecimento de armas e
equipamentos militares aos revolucionários paulistas". Procurada pela
Folha, a Fiesp não havia se manifestado até a conclusão desta edição.
Fonteles apontou: "Portanto, a Fiesp na
data mesma da eclosão do golpe militar, que em nosso país redundou no
Estado ditatorial-militar, celebrou 'a primeira tentativa de união
industrial-militar', sob o fundamento de que 'não é possível existir
qualquer poderio militar sem uma indústria que faça esse poderio'".
A
tese não é inédita e foi abordada em estudos acadêmicos sobre as
relações entre os militares golpistas e setores da sociedade civil.
Um total de 75 documentos produzidos pelo GPMI está hoje sob guarda da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo.
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