Fonte: Unisinos
11 de Abril 2012
Os obstáculos no caminho da hidrelétrica de Santa Isabel
não estão restritos a danos socioambientais ou arqueológicos. O que
está em jogo é a perda de um importante capítulo da história recente do
país. É na região projetada para receber a usina que ocorreu a Guerrilha do Araguaia,
na década de 1960, quando um grupo de militantes do Partido Comunista
do Brasil (PCdoB), recrutado nas regiões Sudeste e Nordeste do país,
montaram uma frente de resistência contra o governo militar.
A reportagem é de André Borges e publicada pelo jornal Valor, 11-04-2012.
O
plano era dar início a um movimento de guerrilha rural no Brasil. Os
militantes se agruparam na região de confluência dos Estados de Goiás,
Maranhão e Pará. Em 1968, quando os militares intensificaram a repressão
aos movimentos urbanos de resistência ao regime, militantes começaram a
se deslocar para a região do Araguaia. Nos combates, dezenas foram
executados. Em meados da década de 1970, o movimento guerrilheiro foi
praticamente banido da região, com seus militantes presos ou mortos, sem
que fossem dados detalhes sobre os desaparecidos. A estimativa é de que
cerca de 80 guerrilheiros se envolveram na guerrilha, entre eles o
ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoíno, detido pelo Exército em 1972.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), historicamente contra a construção de Santa Isabel,
alega que até hoje a área onde será formado o reservatório da
hidrelétrica pode esconder os corpos de 58 pessoas executadas durante os
combates com os militares.
O governo, pressionado pelos
movimentos sociais e políticos e organizações de familiares de
desaparecidos, reiniciou as atividades de busca dos restos mortais de
guerrilheiros e militares, conforme aponta o estudo de impacto ambiental
realizado pelo consórcio Gesai. O trabalho, liderado
por um grupo denominado "Grupo de Trabalho Tocantins", é formado por
membros da Polícia Federal, Exército, peritos forenses do Ministério da
Defesa e governo do Pará, além de parentes de guerrilheiros mortos e
desaparecidos durante a guerrilha.
Para os empreendedores de Santa Isabel,
a polêmica está perto de seu fim. Em seu relatório, o grupo afirma que
"os resultados das investigações realizadas até o momento têm conduzido a
possíveis locais de enterramento dos desaparecidos, aparentemente fora
da área que será ocupada pelo futuro reservatório".
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