30 de Março de 2012
Fonte - unisinos
Um a um, velhos militares iam deixando o Edifício Marechal Duque de
Caxias na Avenida Rio Branco, no Centro do Rio, e entravam num corredor
polonês formado pela Batalhão de Choque da Polícia Militar para
alcançar, a cerca de 10 metros, as escadarias da estação Cinelândia do
metrô. Em volta, cerca de cem jovens manifestantes gritavam:
"assassinos, covardes!". Os militares tinham acabado de participar de um
debate em comemoração aos 48 anos do Golpe de 1964 dentro da sede do Clube Militar.
Os jovens, que integram um movimento a favor da Comissão da Verdade e
que promete denunciar e humilhar pessoas que fizeram parte da ditadura,
enfrentaram a polícia, foram atacados com gás de pimenta e com bombas de
efeito moral.
A reportagem é de Diogo Martins e Paola de Moura e publicada pelo jornal Valor, 30-03-2012.
"Só queremos a abertura dos documentos sigilosos. Nossa intenção é justa", disse o funcionário público e militante do PC do B Romero Bruno, 33 anos.
Dentro do prédio, cerca de 300 militares participaram do debate "1964-A Verdade". No palanque, o general Luiz Eduardo Rocha Paiva voltou
a defender os anos do governo militar e disse que ajudaram a salvar o
Brasil da ditadura do comunismo, como ocorreu em Cuba e na União
Soviética. "Luiz Carlos Prestes declarou, já temos o governo, agora queremos o poder", afirmou. "Castello Branco foi eleito pelo Congresso. No governo Médici, havia dois partidos, um de oposição. Liberdades como essa são impensáveis em um regime de esquerda."
Enquanto
o general discursava e era aplaudido no quinto andar do clube, era
possível ouvir no salão os gritos dos manifestantes. Quando a polícia
começou a enfrentá-los, muitos desistiram de prestar a atenção à
palestra e foram à janela olhar a confusão.
Do lado de fora, as
duas saídas do edifício, uma na Avenida Rio Branco e outra na Rua Santa
Luzia, foram ocupadas pelos manifestantes. Eles carregavam fotos de
desaparecidos durante a ditadura, faixas com frases de apoio à Comissão da Verdade
e ao Ministério Público Federal, bandeiras de partidos como PT, PDT,
PCB e PC do B, e bradavam contra os militares. As ofensas eram feitas
pelos participantes do ato a esmo. Algumas pessoas eram confundidas com
reservistas e hostilizadas. Os manifestantes cantavam hinos típicos de
opositores de ditaduras latino-americanas: "Não passará, não passará, os
crimes hediondos do regime militar!"
Participantes do debate que
deixaram o evento antes do fim, a maioria idosos, eram seguidos pelos
manifestantes e chamados de "assassinos", "covardes", "estupradores",
"servidores dos americanos". Ironicamente, os protestos ocorriam a cerca
de 50 metros do Consulado Americano, na Rua México.
No início, a
saída dos militares não foi organizada pela polícia, apesar da
crescente animosidade na rua, que culminou na agressão dos manifestantes
pelos policiais. A PM, então, passou a planejar a saída após a chegada
da Tropa de Choque, por volta das 16h, uma hora após o início do
encontro militar. Os manifestantes fecharam a Avenida Rio Branco, uma
das principais vias do Centro, por cerca de dez minutos. O trânsito foi
liberado depois que os PMs atacaram os manifestantes com bombas e sprays
de pimenta. Pelo menos um manifestante foi detido pela polícia por
agressão.
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