Publicado em 15-Mar-2012
Ao todo, 67 combatentes foram mortos na região - 41 executados pelas Forças Armadas, ainda que não oferecessem riscos aos militares. Os documentos, muitos manuscritos pelo major Curió, além de confirmarem a política de extermínio perpetrada pela repressão, detalham essas execuções.
Basta folhear alguns dos documentos para se perceber que a tese dos militares de que os guerrilheiros tombaram de armas nas mãos cai por terra. Os documentos revelam que eles foram, sim, presos, amarrados e executados quando não apresentavam nenhuma ameaça aos oficiais.
Iniciada em 1966, a Guerrilha do Araguaia foi travada por integrantes do PC do B que se instalaram na região do Bico do Papagaio (área localizada no sul do Pará e o norte do Tocantins) para combater a ditadura. Entre 1972 e 1975, as Forças Armadas promoveram três campanhas que envolveram cerca de 5 mil agentes nas operações. Do lado da guerrilha havia 98 combatentes. Segundo o jornal, os documentos de Curió revelam dados sobre a terceira campanha militar, a Operação Marajoara, conduzida de outubro de 1973 a janeiro de 1975.
Os relatos sugerem verdadeiras barbaridades. Torturas, fuzilamentos e até a sádica execução do combatente Antônio Guilherme Ribas, o Zé Ferreira, cuja cabeça foi cortada e transportada para Xambioá (sul do Pará).
Corpos ainda estão desaparecidos
Curió afirma ao jornal que "a terceira campanha é que teve o efeito que o regime desejava", com a retomada de uma guerra de guerrilha. A matéria conclui que houve uma política de extermínio no país comandada pelos generais Orlando Geisel (ministro do Exército de Medici), Milton Tavares (chefe do Centro de Inteligência do Exército) e Antonio Bandeira (chefe das operações no Araguaia).
Um dos participantes do grupo de trabalho no Araguaia, encarregado de investigar os restos mortais dos desaparecidos políticos na região, o secretário Nacional de Meio Ambiente do PCdoB e ex-deputado, Aldo Arantes, afirma que, durante todo o processo de investigação, ficou claro que houve uma operação limpeza na região. "Para encontrarmos os restos mortais, é decisivo que esses segmentos forneçam informações", conclama Arantes.
Ele explica que há duas versões a respeito do destino dos restos mortais: a de que os corpos foram jogados no leito do rio Araguaia; e a de que eles foram incinerados na Serra das Andorinhas. Aldo ressalta o papel da Comissão da Verdade no processo de investigação. "É de fundamental importância que ela seja instalada o quanto antes com mecanismos e instrumentos de investigação", afirma.
Justificativas do major
Curió justifica seu papel no episódio: "a ordem de cima era que só sairíamos quando pegássemos o último (combatente)". Segundo o militar, à ocasião, ele "estava erguendo um fuzil no cumprimento do dever ".
Para Arantes, no entanto, o argumento dos militares como Curió, de que houve crime dos dois lados, o que justificaria a reação do Estado tem o propósito de confundir a sociedade. "São coisas de natureza inteiramente diferente. Havia oprimidos e opressores. (Havia, ainda) a violência do Estado e a reação dos que lutavam pela liberdade deste país".
Nesta semana, o Ministério Público Federal encaminhou à Justiça Federal uma denúncia contra o major Curió. Ele é apontado como responsável pelo sequestro de cinco militantes da guerrilha do Araguaia (leia mais).
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