quinta-feira, 15 de março de 2012

Arquivo pessoal de Curió traz dados sobre 16 execuções no Araguaia

http://www.zedirceu.com.br/index.php?option=com_content&task=view&&id=14787&Itemid=2




Publicado em 15-Mar-2012
 
A abertura ao jornal O Estado de São Paulo do arquivo pessoal do coronel da reserva do Exército, Sebastião Curió Rodrigues de Moura, militar que participou das operações no Araguaia, revela mais 16 casos de execução pela repressão.

Ao todo, 67 combatentes foram mortos na região - 41 executados pelas Forças Armadas, ainda que não oferecessem riscos aos militares. Os documentos, muitos manuscritos pelo major Curió, além de confirmarem a política de extermínio perpetrada pela repressão, detalham essas execuções.

Basta folhear alguns dos documentos para se perceber que a tese dos militares de que os guerrilheiros tombaram de armas nas mãos cai por terra. Os documentos revelam que eles foram, sim, presos, amarrados e executados quando não apresentavam nenhuma ameaça aos oficiais.

Iniciada em 1966, a Guerrilha do Araguaia foi travada por integrantes do PC do B que se instalaram na região do Bico do Papagaio (área localizada no sul do Pará e o norte do Tocantins) para combater a ditadura. Entre 1972 e 1975, as Forças Armadas promoveram três campanhas que envolveram cerca de 5 mil agentes nas operações. Do lado da guerrilha havia 98 combatentes. Segundo o jornal, os documentos de Curió revelam dados sobre a terceira campanha militar, a Operação Marajoara, conduzida de outubro de 1973 a janeiro de 1975.

Os relatos sugerem verdadeiras barbaridades. Torturas, fuzilamentos e até a sádica execução do combatente Antônio Guilherme Ribas, o Zé Ferreira, cuja cabeça foi cortada e transportada para Xambioá (sul do Pará).

Corpos ainda estão desaparecidos

Curió afirma ao jornal que "a terceira campanha é que teve o efeito que o regime desejava", com a retomada de uma guerra de guerrilha. A matéria conclui que houve uma política de extermínio no país comandada pelos generais Orlando Geisel (ministro do Exército de Medici), Milton Tavares (chefe do Centro de Inteligência do Exército) e Antonio Bandeira (chefe das operações no Araguaia).

Um dos participantes do grupo de trabalho no Araguaia, encarregado de investigar os restos mortais dos desaparecidos políticos na região, o secretário Nacional de Meio Ambiente do PCdoB e ex-deputado, Aldo Arantes, afirma que, durante todo o processo de investigação, ficou claro que houve uma operação limpeza na região. "Para encontrarmos os restos mortais, é decisivo que esses segmentos forneçam informações", conclama Arantes.

Ele explica que há duas versões a respeito do destino dos restos mortais: a de que os corpos foram jogados no leito do rio Araguaia; e a de que eles foram incinerados na Serra das Andorinhas. Aldo ressalta o papel da Comissão da Verdade no processo de investigação.  "É de fundamental importância que ela seja instalada o quanto antes com mecanismos e instrumentos de investigação", afirma.

Justificativas do major

Curió justifica seu papel no episódio: "a ordem de cima era que só sairíamos quando pegássemos o último (combatente)". Segundo o militar, à ocasião, ele "estava erguendo um fuzil no cumprimento do dever ".

Para Arantes, no entanto, o argumento dos militares como Curió, de que houve crime dos dois lados, o que justificaria a reação do Estado tem o propósito de confundir a sociedade. "São coisas de natureza inteiramente diferente. Havia oprimidos e opressores. (Havia, ainda) a violência do Estado e a reação dos que lutavam pela liberdade deste país".

Nesta semana, o Ministério Público Federal encaminhou à Justiça Federal uma denúncia contra o major Curió. Ele é apontado como responsável pelo sequestro de cinco militantes da guerrilha do Araguaia (leia mais).

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