17 janeiro de 2010
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias-arquivadas/29045-atas-expoem-caca-as-bruxas-em-universidade
Em uma reunião da Comissão Especial de Investigação Sumária da UFRGS, o professor Laudelino Teixeira de Medeiros,
da Faculdade de Filosofia, lamentou a possível não punição de
"subversivos". Ele disse, conforme a ata: "Sinto que pessoas que
manifestamente, até por escrito, tiveram participação condescendente e
até promotora de atos de subversão ficam fora do jogo".
A reportagem é de Mário Magalhães e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 17-01-2010.
O presidente da comissão, Nagipe Buaes, da Faculdade
de Ciências Econômicas, pediu: "Não poderia Vossa Excelência dar, por
conseguinte, em caráter secreto, a esta presidência, os nomes dessas
pessoas a fim de que elas possam ser arroladas, sem revelar de onde
emanou a fonte de informação?"
Laudelino se antecipara, mas nomeou: "Eu já dei por escrito. Um nome, por exemplo, é o do professor Pery Pinto Diniz da Silva". Era o antigo vice-reitor, que renunciara após o golpe de 1º de abril de 1964.
O clima de caça às bruxas predominou no grupo nos meses seguintes à deposição do governo constitucional de João Goulart. Uma obsessão era castigar quem liberara as dependências da universidade para um evento a pedido da irmã de Jango, Neuza, casada com Leonel Brizola.
Alguns componentes pareciam se preocupar com a imagem, relativizando a atividade repressiva do órgão.
O professor Ney Messias,
da Faculdade de Direito de Porto Alegre, construiu o raciocínio:
"Professar ideologia não é razão para condenar. Mas fazer proselitismo
com base nessa ideologia é que é delito". O incentivo à delação
prevaleceu. Laudelino sugeriu que denunciantes tivessem
nome preservado, para não intimidá-los. Professores e alunos acusaram
colegas, porém muitos se recusaram a colaborar.
O general Jorge Teixeira manifestou atenção
particular por estudantes estrangeiros que viajaram a Cuba. O 3º
Exército apresentou relatório com a lista de assistentes de um curso do
historiador comunista Jacob Gorender.
As atas finais da comissão não constam do arquivo de Laudelino. Não se sabe a data de conclusão dos trabalhos.
O motivo é que ele se afastou. Seu filho Luiz Inácio Franco de Medeiros contou que o motivo foi divergência com os critérios adotados.
"Ele não era de esquerda, mas não era de direita", disse o filho. "Laudelino era uma personalidade complexa", afirmou o ainda hoje professor do Instituto de Biociências da UFRGS Francisco Mauro Salzano, 81, da Academia Brasileira de Ciências. "Era um intelectual, católico e direitista muito extremo."
A Universidade de Caxias do Sul não se pronunciou sobre a posse das atas da comissão da UFRGS.
Os responsáveis pelo seu centro de documentação e biblioteca,
gerenciados com rigor e métodos de padrão internacional, estão em
férias.
É provável que a aquisição do acervo tivesse como interesse principal os livros de Laudelino (a biblioteca da UCS reúne 950 mil volumes). Veio junto um tesouro da história.
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